Conferência Livre de Saúde Mental de Belo Horizonte

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Compartilho um relato dos muitos eventos que ocorreram pelo Brasil neste dia 29 de março de 2019, em defesa da Rede de Atenção Psicossocial, uma conferência livre em Minas Gerais, terra onde a Luta Antimanicomial é fortíssima.

“Coisa bonita demais foi a Conferência Livre de Saúde Mental de Belo Horizonte.

Enquanto a preparávamos, muita tensão, muita pressão, muita tristeza. As notícias ruins de todos os dias no Brasil, que nos fazem tão mal. Os problemas cotidianos nos serviços, a dureza do trabalho. A gente sofrendo, ralando, teimando. E, da parte do gestor, nenhum apoio para a realização da Conferência: só incompreensão, surdez, cerceamento, boicote.

Mas não tem jeito, nóis é nóis – e logo dá pra ver que vai rolar a festa. Povo começa a chegar, devagar no começo: usuário, gerente, estudante, trabalhador. Chegam mais. As pessoas se cumprimentam, sorriem, tomam café, circulam, conversam, nos espaços do belo Conservatório de Música da UFMG. E nunca mais param de chegar. Antes da mesa de abertura, o auditório já está cheio, lotação esgotada – e, pela janela, se vê a fila do credenciamento que não acaba, a estender-se rua a fora.

Quando as primeiras palavras são ditas, elas são belas porque se inspiram naquilo que se pode apalpar no ar: uma paixão tão intensa, uma tão teimosa alegria, uma resistência tão tenaz que nos contagiam e emocionam. E quando descemos dali para abraçar a luta antimanicomial, como todos os serviços de saúde mental do Brasil fizeram ontem, é bonito, é bonito demais: a gente se dá as mãos e ergue as faixas na porta do Conservatório, e vai descendo os degraus, ocupando o passeio, até tomar a Avenida Afonso Pena, gritando Manicômios, nunca mais!

Dali, passamos aos grupos, onde cada um, como se deve, exerceu seu direito a voto e voz; a plenária, as propostas, as moções. Assim, democraticamente, com participação e controle social, se faz a Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. Assim se constrói o SUS. Assim se afirma o poder imenso do cuidado em liberdade.

E depois, claro, lavadas as almas, vem a merecida cerveja com os amigos queridos na festa noturna da sexta-feira em BH.

Coisas de não se esquecer. Coisas que ficam na história.

Vivam os movimentos sociais que organizaram a Conferência: Movimento dos Trabalhadores da Rede de Saúde Mental de Belo Horizonte, a Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Belo Horizonte, o Fórum Mineiro de Saúde Mental. Viva o Conselho Municipal de Saúde, que nos apoiou todo o tempo, com firmeza e carinho. Viva a feliz parceria com a UFMG.

Viva, viva, sempre viva, a luta antimanicomial em Belo Horizonte!”

Ana Marta Lobosque