O ativismo na luta pela visibilidade e responsabilização de governos e iniciativa privada na França dos anos noventa no cuidado em saúde é retratado de forma poética no filme 120 batimentos por minuto. O diretor percorre os caminhos tortuosos desta saga focando o protagonismo do movimento Act Up-Paris, por intermédio de um de seus personagens mais dramáticos.
O movimento Act Up-Paris, coletivo da comunidade homossexual criado em 1989, defende todas as populações tocadas pelo HIV/AIDS. Para além de sua tragédia pessoal, esses ativistas consideram esta luta antes de tudo uma questão política.
Act Up se propõe informar os enfermos sobre todos os tipos de tratamentos para que participem com conhecimento de causa das decisões terapêuticas. Funda a sua ação sobre um trabalho de expertise efetuado por comissões, como direitos sociais, prevenção, tratamento e pesquisa, mulheres, prisões, estrangeiros e Internacional. É um grupo mobilizador das mídias em torno de ações públicas espetaculares, que colocam os problemas enfrentados na ordem do dia, convidando os expectadores e pressionando os responsáveis políticos a colocarem em prática medidas indispensáveis ao cuidado. Faz interlocução com partidos políticos, laboratórios farmacêuticos e organismos de pesquisa e prevenção. Em outras palavras, Act Up- Paris luta em todos os fronts: na rua, nas mídias e nas instituições. Porque é nestes espaços que se dão as lutas no cotidiano contra a AIDS. (fonte: https://www.facebook.com/pg/actupparis/about/?ref=page_internal, em tradução livre desta autora do post).
As intervenções do coletivo no filme mostram novos modos de tratar o enfrentamento com os poderes, formas poéticas, inspirados em escolhas pela via da sensibilidade e das potências do corpo. Movimentos e manifestações ético-estético-políticas bem ao modo de nossos novos tempos. Novos tempos, porém velhas questões ainda na pauta. Luta contínua.
posts publicados na RHS que buscam dar visibilidade a outros tipos de narrativa sobre as lutas de minorias:
https://redehumanizasus.net/o-perigoso-labirinto-da-homofobia/#comment-39158
Judicialização da Saúde: a pele de jurisdicionada que habito
Por patrinutri
Nesta década de 90 também estive envolvida com esta luta. Trabalhava em um hospital onde tínhamos um grupo de pessoas vivendo com o HIV e alguns já com quadros bem comprometidos pela doença. Foi uma vivência bem marcante em minha vida. Acompanhei a despedida de amigos que não conseguiam aderir ao tratamento devido aos efeitos colaterais das medicações da época. Além de toda a luta contra os preconceitos sofridos, conviviam com as perdas dos colegas, e trilhavam este difícil caminho com a doença.
Não tinha como ficar alheia a toda esta luta pela vida!
Lembro que tinha medicações que para serem absorvidas precisavam ser ingeridas com alta quantidade de gordura. Não lembro o nome agora, mas quando precisavam prescrever isto, chamavam a nutricionista para incluir na dieta e tentar convencer as pessoas a seguirem à risca o tratamento. Daí que acabou surgindo o grupo de escuta, pois a equipe acabou se sensibilizando com a dificuldade de adesão ao esquema medicamentoso imposto a eles.
Era uma equipe multidisciplinar lutando junto com estas pessoas pela vida delas e de todos os outros que sofriam a seu redor.
Em seguida, felizmente, vieram novas drogas e o coquetel foi ficando mais suportável, daí a vida foi vencendo a morte. Já não perdíamos mais tantos amigos.
Vivências que me fizeram mais humana com certeza. Aprendi muito com a equipe também, sobre trabalho coletivo, humanizado onde o que importava verdadeiramente eram as pessoas.