A autossuficiência é um efeito ilusório que deriva de movimentar-se nos limites da perspectiva do ego. Todos somos interdependentes e multideterminados. Não existe um “eu” sem a diversidade relacional que nos caracteriza e instituí.
A condição de portar uma deficiência ou incapacidade é relacionada muitas vezes, de modo equivocado, a condição incurável de não poder existir sem tutela. No entanto, o fato é que nenhum de nós pode viver sem inúmeras e diversas formas de apoio.
Assim, uma deficiência é definida pelo grau de apoio que é necessário para que alguém exerça a máxima autonomia possível. A tutela, nesse sentido, não se compara ao apoio, que é caracterizado por fazer junto. O fazer por, inerente às relações de tutela, coloca o outro numa relação de sujeição e passividade.
O paradoxo é que pensamos que os incuráveis precisam de um curador. Porém, é a vida, como fenômeno, que precisa de uma curadoria permanente. Pois na verdade nenhum humano é completamente incapaz. A incapacidade plena é a morte. Todos temos um conjunto de capacidades potenciais. Realizar essas potências exige apoio. Mas, isso não significa, portanto, que alguém deva ser interditado e tutelado em função de suas incapacidades. Como qualquer pessoa, todos precisamos de apoio em relação a tudo que ultrapassa nossas possibilidades.
Precisamos da alegria de fazer junto, do prazer de somar nossas potências para realizar aquilo que sozinhos não poderíamos fazer.