Da camisa de força ao jaleco: Diário de campo da psicologia em contexto hospitalar

7 votos

Das mentiras que a psicóloga coordenadora do CAPS contou para a minha família, quando fui levado de casa para a internação no IPq (sem saber que aquilo era um manicômio), foi que eu havia sido removido com camisa de força, isso para uma cidade do interior catarinense, seria uma cena dantesca.

Hoje acordei as 06:30 da manhã, tomei banho me vesti e ao invés de rumar para o trabalho como faço habitualmente, me apresentei ás 07:55 no Hospital, para o primeiro dia de estágio de psicologia em contexto hospitalar.

Informei minha matrícula, ganhei um crachá de estagiário…entrei pelo departamento de ensino e pesquisa, fui ao banheiro vestir o jaleco e depois guardei a mochila em um pequeno armário. Encontrei minhas colegas de turma e a monitora de campo que nos acompanha.

Nos dirigimos á pequena sala de psicologia do hospital, onde fomos recebidos pela profissional que atua no período matutino, ela foi muito solícita e permitiu que o grupo acompanhasse quatro atendimentos, divididos em duas duplas para não lotar os quartos de pessoas e incomodar os pacientes.

O primeiro paciente que observei é um senhor de meia idade que está ansioso e com medo, aguardando a cirurgia cardíaca, ele nos recebeu bem e conversou bastante com a psicóloga, que de vez em quando, fazia  anotações num bloquinho.

Algum tempo depois observei o atendimento a um segundo paciente que estava fraco e enjoado e preferiu não conversar com a psicóloga.

Outra dupla de estagiárias também teve a oportunidade de observar o trabalho da psicóloga no pronto atendimento, onde dentre as diversas demandas são atendidas as tentativas de suicídio.

Entre as muitas portas dos setores do hospital, havia uma laranja escrito HumanizaSUS.

Não conseguimos entrar na ala psiquiátrica porque havia 3 pacientes em surto, o corredor que leva até a ala psiquiátrica é adornado com jardins de inverno e alguns deles foram desativados e servem como depósitos temporários de lixo hospitalar…a fachada da ala Psiquiátrica tem um papel de parede colorido e alegre…bem diferente da dura realidade do lado de dentro do qual fomos impedidos de entrar hoje.

 A internação psiquiátrica em hospital geral não tem nada de leve e romântica…

Hoje estava vestindo um jaleco e acompanhando um estágio, neste ambiente que a nós comumente dão apenas as camisas de força, sejam as feitas de tecido ou a contenção química, um pequeno passo para mim ao vestir um jaleco, um avanço para a reforma psiquiátrica brasileira, porque sim nós podemos mais!

Tenho medo de entrar na ala psiquiátrica do hospital e me sentir em casa!