Débora, Raphael e o outro lado do balcão: O lugar dos usuários ao terminar e recomeçar

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No dia 16 de agosto de 2021 das 09 ás 13:00 horas tive o privilégio de acompanhar remotamente a defesa da dissertação de mestrado da Débora Aligieri cujo título é: Ciberativismo em diabetes: “lutamos por vidas, não por likes”.

Durante a arguição da banca o Professor Doutor Marco Arkeman questionou se a Débora possuía pontes com outros movimentos sociais e ativistas para além do Diabetes e fui citado nominalmente como militante da saúde mental, isso me deixou feliz (leonino que sou rsrsrs).

Em outro momento a orientadora Professora Doutora Marília Louvison descreveu o percurso da Débora que foi se aproximando e ocupando o espaço da universidade e a metodologia do Programa de Pós- graduação em Saúde Pública, sem anular a usuária e militante do SUS que a compõe e caracteriza.

O Professor Doutor Ricardo Teixeira também compunha a banca e sua presença me recordou uma fala de 2019 onde ao explanar os resultados da Jornada de Reflexões sobre a RedeHumanizaSUS, ele cita o fato da Débora ter sido editora da RHS sem de fato nunca ter sido profissional do SUS, mas sim sua usuária, ou seja sem, “nunca ter estado do outro lado do balcão”.

Nessa mesma oportunidade em 2019 eu Raphael, fui citado também por acreditar que o protagonismo no mundo da saúde é do médico e do gestor, os outros profissionais: psicólogos, enfermeiros etc…são coadjuvantes e o usuário é figurante no seu tratamento, mas que na RedeHumanizaSUS  eu não sinto isso pois nesta rede social todos os atores são nivelados pela ideia de construir o SUS de alguma forma.

No período noturno ainda mesmo neste dia 16 de Agosto de 2021, iniciei meus estudos na faculdade de Psicologia, sei que ainda existe um longo caminho a ser percorrido de pelo menos 5 anos, que haverá dias bons e ruins com muitos desafios, inclusive não desistir sendo bipolar é um deles!!!

Curiosamente por nosso Ciberativismo, mesmo que em campos diferentes da saúde, Débora e eu sempre estivemos ligados, por laços de amizade iniciados no CiberespaSUS, conversas, colaborações com AVANSUS e até alguns desentendimentos estendidos pela RedeHumanizaSUS.

Ao terminar seu percurso formativo e alcançar o título de “Mestra em Ciências” sem deixar de ser usuária do SUS e militante do Diabetes, dialogando com Foucault e Paulo Freire, Débora dá um passo importante na direção da construção de saúde que considera o conhecimento da pessoa sobre seu corpo e sua própria patologia e não apenas o saber biomédico hegemônico e dominante, retirando assim o balcão que separa nós usuários da vida acadêmica e produção de ciência.

Ao iniciar minha segunda graduação, mas esta na área de Psicologia, eu Raphael acredito que caminho para a construção de uma educação e saúde não hierarquizadas, pois pode soar estranho ainda para muitas pessoas que um ex-usuário de CAPS torne-se algum dia profissional da área assistencial de saúde mental, pulando talvez (ou não) para o outro lado do balcão de acolhimento.

Com vidas, historias, conhecimentos diferentes, Débora termina e Raphael recomeça o processo de aprendizagem, continuamos a esperançar um futuro onde o usuário possa escolher o lado do balcão que deseja e precisa estar naquele momento, onde a narrativa do SUS que dá certo seja espalhada pela vida das pessoas em muitos blogs, sites e páginas de redes sociais para além da RedeHumanizaSUS.