Dependência Química e Redução de Danos: um overview teórico

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Dependência química

O que é 

Trata-se do “estado psíquico e algumas vezes físico resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por modificações de comportamento e outras reações que sempre incluem o impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o desconforto da privação” (OMS). Como caracterização desta dependência, o indivíduo pode ainda apresentar: tolerância, abstinência, fissura, incapacidade de controlar a intensidade do consumo além de  prejuízo social, profissional e emocional oriundo da substância.

Epidemiologia

Segundo o Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas feito em 2005, 12,3% dos brasileiros é dependente de álcool e 10,1%, de tabaco. A pesquisa também identificou indivíduos dependentes em diversas outra substâncias como maconha, estimulantes, benzodiazepínicos e solventes, porém são parcelas menores.

História

Apesar de ser um tema bastante atual, sempre acompanhou a história da humanidade, com abordagens diferentes ao longo das épocas. O uso de substância psicoativa é uma prática milenar e universal e sua história acompanha o conceito de saúde e doença. Os efeitos causados anteriormente eram visto como sobrenaturais, mas o avanço da ciência e tecnologia demonstrou relações bioquímicas que logo substituíram as antigas crenças.

Suas consequências

Inicialmente, o uso de drogas provoca bem-estar e felicidade, o que pode inspirar desejos de repetir as sensações causadas. Entretanto, o consumo persistente e a longo prazo dessas substâncias se relacionam a efeitos nocivos à saúde e à vida do usuário como um todo. Estão listadas na literatura lesões neuronais irreversíveis, que diminuem o raciocínio e cognição, além do surgimento de transtornos mentais; incidência de neoplasias; comportamentos de risco que podem levar o usuário a se expor a doenças infecciosas. O isolamento da família, dos amigos próximos e da sociedade também são uma consequência nociva do uso de drogas, muitas vezes porque o dependente químico passa a ter uma visão distorcida da sua realidade, além de ser vítima de preconceitos.


Redução de danos

O que é

Refere-se a um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos causados pelo uso de agentes psicoativos em pessoas que não vão cessar esse uso. Ou seja, a abstinência não é o foco e, sim, a prevenção de danos aos usuários. Passos e Souza (2017) destacam que a redução de danos (RD) se trata da inclusão dos usuários de drogas em coletivos, o que define uma nova proposta de atenção à saúde. É ressaltado ainda que por meio da RD se estabelece um embate com as forças totalitárias da política global do que se popularizou como “guerra às drogas”.

História

A RD foi inicialmente instituída no Brasil no ano de 1989, em Santos (SP), como política de prevenção de HIV entre os usuários de drogas injetáveis, tendo em vista os altos índices da época. Com o passar dos anos, as estratégias de RD foram aprimoradas, não limitando-se mais ao eixo HIV, para integrar a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas e da política de Saúde Mental. Com isso, a RD passou a se chocar com a política de antidrogas brasileira, que reside no âmbito da segurança pública.

Resultados

A política de redução de danos tem efeitos positivos reconhecidos em todo o mundo abrangendo toda a sociedade, ao atuar na prevenção da transmissão de doenças, como hepatite e Aids, e no protagonismo do indivíduo no que se refere o cuidado a sua própria saúde. A política tem, portanto, aspecto não só técnico, como ético, possibilitando a formação de vínculo entre os que fazem uso problemático dessas substâncias com a saúde. A redução de danos parte do pressuposto de que é necessário garantir o direito de todos à saúde, beneficiando, dessa forma, pessoas que usam drogas, suas famílias e a comunidade.


Para saber mais sobre o assunto guerra às drogas, e ter uma ideia do que se pode fazer para contornar isso, fica a sugestão do vídeo (em inglês com legendas) do Kurzgesagt:

https://youtu.be/wJUXLqNHCaI


REFERÊNCIAS

  1. FIDALGO, T. M.; NETO, P. M. P.; SILVEIRA, D. X.. Abordagem da dependência química
  2. Hospital Santa Mônica. Dependência química: Entenda as causas, consequências e sintomas deste transtorno. Disponível em <https://hospitalsantamonica.com.br/dependencia-quimica-entenda-as-causas-consequencias-e-sintomas-deste-transtorno/>. Acesso em: 27 agosto 2020.
  3. International Harm Reduction Association. IHRA Briefing. O que é redução de danos? Uma posição oficial da Associação Internacional de Redução de Danos (IHRA). Disponível em <https://www.hri.global/files/2010/06/01/Briefing_what_is_HR_Portuguese.pdf>. Acesso em 27 agosto 2020.
  4. PASSOS, E. H. & SOUZA, T. P.. Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade; 23 (1): 154-162, 2011.
  5. PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A.. O Processo Saúde-Doença e a Dependência Química: Interfaces e Evolução. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 25 (2): 203-211, 2009.
  6. UNIFESP. Caso Complexo 12 – Vila Santo Antônio. Fundamentação Teórica.  Especialização em Saúde da Família. Disponível em <https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/casos_complexos/Vila_Santo_Antonio/Complexo_12_Vila_Abordagem_dependencia.pdf>. Acesso em: 26 agosto 2020.

Texto produzido por graduandos de Medicina da Universidade Federal de Alagoas

Elvys Pereira, Vitor Lúcio, Rafaela Ferreira, Natally Regina, Mateus Oliveira, Viviane Tavares e Wellisson Rodrigues