Gosto de pensar no desejo como um caçador. Ele não sabe nem se importa com o quando terá a presa entre seus dentes. Exatamente por essa indiferença, ele é capaz de se concentrar em todas as variáveis e oportunidades imprevisíveis que os farão conseguir capturar o instante em que, por estar caçando, poderá parar a caçada e saciar sua fome.
Todo o movimento está integrando fome, necessidade e satisfação.
Ao comer ele supera a diferença entre si mesmo e a presa. Quando finalmente ele parar de caçar e de se alimentar, será então transmutado no alimento da caça, ao devolver ao ambiente o corpo em decomposição que será o adubo do alimento dos descendentes daqueles que caçou enquanto viveu…
Então não se deseja em função de uma finalidade. O desejo nos move para a plenitude que integra a carência e a satisfação numa totalidade em que cada instante evoca em si mesmo todo o passado e todo o futuro.