DOR NA PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIOESPIRITUAL

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     Dor, conceituada pela Associação Internacional de Estudo da Dor (IASP), é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou semelhante àquela associada a dano real ou potencial ao tecido, sendo influenciada em vários graus por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Durante a assistência ao processo saúde doença do indivíduo, métodos devem ser utilizados a fim de avaliar e aliviar o grau de dor. Considerando que o ser humano é um ser biopsicossocioespiritual, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a espiritualidade como um dos parâmetros que definem o estado de saúde de um indivíduo. Logo, para um cuidado integral e humanizado, a condição espiritual do indivíduo deve ser admitida como fator importante para o restabelecimento da saúde.
A espiritualidade conceitua-se como a propensão humana na busca de um significado para a vida, essa definição caracteriza-se como algo muito mais complexo do que apenas as religiões e crenças, define-se como a busca por uma conexão que transcende o tangível. A espiritualidade é considerada um fator de impacto na saúde, qualidade de vida e bem estar dos indivíduos, de forma que torna-se evidente que pacientes que estão mais conectados com o lado espiritual, apresentam maior atenção, melhor adesão ao tratamento, maior aceitação do seu processo saúde-doença e vontade de escutar o outro. Além disso, a prática da meditação associada com o envolvimento espiritual do paciente contribui em até duas vezes na diminuição da dor, redução nos níveis de ansiedade e melhora do humor. A neuroteologia é um campo científico que estuda os padrões de atividades cerebrais desenvolvidos durante experiências espirituais. No entanto, apesar de ser um assunto pouco disseminado, apresenta muitas críticas, especialmente por teólogos. Evidencia-se que com os avanços e o desenvolvimento tecnológico, a neuroteologia tem aplicado técnicas como as de mapeamento cerebral, para entender a causa das alterações de consciência e transe pela qual alguns indivíduos vivenciam. Os estudiosos da neuroteologia acreditam que são esses impulsos dos neurônios que causam as experiências espirituais, de forma que essas experiências são meramente reações do cérebro.
É importante salientar o reconhecimento do paciente como especialista não só na dor como também nas próprias vivências adquiridas. Ou seja, ele deve ser respeitado, ouvido e humanizado dentro das suas particularidades psicológicas, sociais e espirituais. Para isso, o profissional deve se atentar às linguagens verbais e não verbais do paciente – observando as falas, posturas, gestos e objetos que o paciente carrega consigo. É importante analisar como os aspectos religiosos do paciente se manifestam: se ele caracteriza a dor como um castigo ou se ela o mantém esperançoso, por exemplo. Ainda, para realização de uma anamnese completa pode-se utilizar a ferramenta HOPE onde as letras são um acrônimo para: H – há fontes de esperança? (a que o paciente recorre quando a situação está difícil); O – organização religiosa? (questionar se o paciente participa de alguma organização ou comunidade religiosa e como ela o ajuda ou atrapalha em relação à dor); P – práticas espirituais pessoais (quais as crenças e hábitos pessoais do paciente, não necessariamente no contexto da organização a qual ele participa); E – efeitos do tratamento (como as crenças pessoais do paciente se relacionam com o tratamento – auxiliando ou restringindo métodos de ação). Toda essa abordagem ambiciosa permite a contemplação do paciente como um todo, conectado à fé e à ciência para a melhor abordagem e tratamentos possíveis.
Portanto, é possível ressaltar que a espiritualidade tem grande impacto na saúde do paciente, pois acarreta em maior aceitação à doença e ao processo de busca pela cura; a fé/espiritualidade é importante para se reconectar consigo e proporciona diminuição da ansiedade no decorrer de um tratamento. Desse modo, é imprescindível que o profissional ouça, reconheça e entenda o caso do paciente e como suas crenças podem ajudar, conectando dois lados (fé e ciência), antes vistos como opostos, nesse processo de tratamento.

Aline Gabriela de Oliveira¹, Ingrid Samara Ramos Braga ², Lais Nicolly Ribeiro da Silva³, Lívia Macedo de Oliveira Lima Souza⁴

¹ Graduanda em Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
² Graduanda em Enfermagem pela Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG-UPE)
³ Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas
⁴ Graduanda em psicologia pela Universidade Estadual do Centro Oeste