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  Por meio da disciplina “SAÚDE E DESEJO: desafios do presente”, ministrada pela Profª Drª Catia Paranhos Martins no Programa de Mestrado em Psicologia na Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD, iniciamos as segundas-feiras à tarde, uma caminhada rizomática na qual dialogamos sobre a conjuntura brasileira e seus desafios coletivos do presente, sempre questionando o passado e refletindo sobre o futuro.

   Nossas conversações envolveram questões no âmbito da saúde coletiva e saúde mental, bem como da política, das assimetrias de gênero, de raça e etnias, entre outras, ou seja, conversamos acerca de uma multiplicidade de caixinhas. Caixinhas que além de produzirem desigualdades sociais, excluem, estigmatizam, higienizam, e naturalizam construções androcêntricas, sexistas, machistas, racistas numa sociedade capitalista.

   Nesse sentido, nossas reflexões sobre a produção e reprodução econômica, cultural, social e histórica, bem como suas influências diretas e indiretas no nosso cotidiano, só foram possíveis através múltiplas leituras de mundo, de estudiosas/os das áreas da filosofia, sociologia, antropologia, psicologia e história. A título de exemplo, podemos citar Félix Guattari discorrendo sobre a produção e padronização de subjetividades, Gilles Deleuze revelando as modulações de controle na sociedade contemporânea, conhecemos também o Comitê Invisível que nos motivaram através da escrita coletiva sobre o poder das insurreições e suas possibilidades de mudanças.

   Fomos apresentados também, por meio da leitura de sua obra, ao Peter Pal Pelbart, pelo qual foi exposto novos modos de pensar o mundo para superar as dicotomias e a lógica do capital, da mesma forma, conhecemos a Rita Barradas Barata, discorrendo acerca das causas das desigualdades sociais e os acometimentos na nossa saúde. Seguidamente, dialogamos sobre as diferentes formas de violência através da obra da Maria Cecília Minayo em que foi apontado dados sobre os malefícios do uso de armas de fogo, e por meio da fascinante Sueli Carneiro, foi revelado a dimensão do racismo construído sócioculturalmente, bem como a negação, a discriminação e a exclusão dos afrobrasileiros, e do mesmo modo, Eduardo Viveiros de Castro, apresentou sua perspectiva acerca da (re)existência dos povos indígenas.

   E entre outros, lemos também os clássicos no campo da saúde coletiva e mental como Antonio Lancetti e Paulo Amarante. Autoras/es que através do compartilhamento de seus conhecimentos, nos transportaram para outros mundos, mesmo que ainda utópicos, na mesma medida em que, promoveram deslocamentos e questionamentos dessa dicotomização societal que estamos inseridos.

   E é nesse movimento de desconstrução dos paradigmas sociais, especificamente do sexismo, com base nas leituras realizadas na disciplina, que estou desenvolvendo minha pesquisa de Mestrado intitulada como “Mulheres Professoras da Fronteira Brasil-Bolívia” na qual estou sendo orientada pela Profª Drª Jacy Corrêa Curado.

  Nesse sentido, considero nossa pesquisa como parte do processo de desconstrução da condição de subalternidade e desvalorização histórica das mulheres, em que objetivamos compreender as assimetrias nas relações dos trabalhos das mulheres, envolvendo trabalho doméstico, do cuidado e profissional que são desenvolvidos por essas mulheres, mães, esposas e professoras. Mas principalmente, na tentativa de empoderá-las acerca das problemáticas oriundas da divisão sexual do trabalho e com isso, levá-las a repensar seus mundos e suas relações em casa e na escola, apresentando-as novas formas de compartilhamento de seus trabalhos e do seu tempo investido nas atividades do cotidiano, evidenciando sempre os benefícios dessa mudança para a integralidade de sua saúde.

   Assim sendo, penso que para nós mulheres, as caixinhas reservadas e cobradas pela sociedade são de: ser uma mãe atenciosa, uma esposa amorosa e uma profissional comprometida, ou seja, uma mulher multitarefas que se dedica integralmente a família e aos trabalhos.

  À vista do exposto, acredito que pesquisas acadêmicas e disciplinas reflexivas como estas que foram apresentadas acima, nos levam a desconstruir essas caixinhas, ao mesmo tempo que, a sonhar e desejar novas possibilidades de transformações sociais, através de novos recortes, novas perspectivas, manifestando assim a esperança de um novo mundo, de novas realidades e novas relações de trabalho, especialmente na fronteira Brasil-Bolívia, na cidade de Corumbá-MS.

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Referências Bibliográficas

Barata, Rita Barradas. (2009). Desigualdades sociais e Saúde. In: CAMPOS, G. [et al.] Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, p. 457-486.

Carneiro, Sueli. (2011). Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro.

Comitê Invisível. (2016). Aos nossos amigos. Crise e insurreição. São Paulo: n-1 edições,  p. 11-46. Recuperado de:  https://laboratoriodesensibilidades.wordpress.com/2016/06/14/aos-nossos-amigos-crise-einsurreicao-disponivel-em-pdf-no-link-abaixo/

Deleuze, Gilles. (2000). Post-scriptum sobre as Sociedades do Controle. In: Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34. Recuperado de: https://historiacultural.mpbnet.com.br/posmodernismo/PostScriptum_sobre_as_Sociedades_de_Controle.pdf

Guattari, Félix. (1981). Vinte e duas linhas máquinas. In: Revolução Molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, p. 227.

Lancetti, Antonio. & Amarante Paulo. (2009). Saúde Mental e Saúde Coletiva. In: CAMPOS, G. [et al.] Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Fiocruz, p. 615-634.

Minayo, Maria Cecília. (2006). Violência e saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, p. 7- 42. Recuperado de: https://books.scielo.org/id/y9sxc/pdf/minayo-9788575413807.pdf

___________________. (2018, 21 de novembro). ‘Não há saída com mais armas’. Recuperado de: https://cee.fiocruz.br/?q=Cecilia-Minayo-Nao-ha-saida-com-mais-armas

Pelbart, Peter Pal. (2015). Políticas da vida, produção do comum e a vida em jogo. Saúde soc. [online]. vol.24, suppl.1, p.19-26.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    Viveiros de Castro, Eduardo. Todo mundo é índio exceto quem não é. Recuperado de: https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo_%C3%A9_%C3%ADndio.pdf.