Ensinando o uso de Tecnologias Leves por meio da Problematização como instrumento de cuidado na ESF.

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A utilização de competências interpessoais pode se constituir como um diferencial positivo nas relações em uma Estratégia Saúde da Família.
A Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) no Campus de Presidente Prudente, insere os estudantes da Graduação de Medicina como membros das equipes interprofissionais, em cinco Estratégias Saúde da Família, localizadas nos municipios de Presidente Prudente e Álvares Machado.
A Metodologia Ativa da Problematização é utilizada pelos Facilitadores no Programa de Aproximação Progressiva à Prática na Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (PAPP/FAMEPP/UNOESTE).
Uma das questões de aprendizagem, criada em uma Visita Técnica à ESF, pela Facilitadora, esteve relacionada à importância da utilização de Tecnologias Leves no Cuidado da comunidade adscrita ao território da Unidade de Saúde.
Na discussão, após as buscas, os Acadêmicos consideraram que a falta de habilidades interpessoais pode resultar em atitudes comunicacionais não adequadas, dos profissionais de saúde em sua relação com os pacientes. Essas atitudes podem interferir de maneira negativa na qualidade da assistência oferecida pela equipe.
A Facilitadora explicou que a comunicação entre os Trabalhadores de Saúde e os usuários do SUS é muito importante nos relacionamentos humanos, e que as relações interpessoais, constituem-se como um instrumento primordial para o cuidado em saúde.
Acadêmicos contribuíram dizendo que o desenvolvimento de competências interpessoais está relacionado a um “autodesenvolvimento”; dessa maneira, depende de aspectos intrapessoais.
A gerente da ESF foi convidada a participar da reunião com os estudantes e considerou a importância das “organizações” poderem definir e direcionar os conhecimentos, habilidades e atitudes que são consideradas necessárias e desejáveis aos Profissionais de Saúde, para uma boa relação entte a equipe e o usuário SUS. Ela reforçou que a vontade individual para o aprimoramento é muito benvinda e deve ser estimulada pelos coordenadores das ações em saúde, desenvolvidas no território ligado à Unidade. Complementou que algumas competências interpessoais podem ser desenvolvidas pelos trabalhadores da saúde, a partir da utilização das tecnologias relacionais.
A facilitadora fez questionamentos relacionados à palavra “tecnologia”, explicando a seguir, que ela compreende a busca intencional da produção de bens e produtos que funcionam como objetos, não apenas materiais, mas simbólicos, relacionados a valores de uso para a satisfação de necessidades das pessoas.
Utilizando a referência do autor Merhy, acadêmicos explicaram que as tecnologias em saúde podem ser classificadas como: “tecnologias duras” (instrumentais, normas, rotinas e estruturas organizacionais), “tecnologias leve-duras” (saberes estruturados, como a fisiologia, anatomia, psicologia, clínica médica e cirúrgica) e “tecnologias leves” (relacionadas ao conhecimento da produção das relações entre sujeitos).
A Facilitadora considerou que as tecnologias leves podem estar presentes no espaço das relações de trabalho. Elas podem se expressar nas atitudes das pessoas, podendo ser denominadas “tecnologias das relações”. Guardam relação com o acolhimento, a integração, a criação de vínculos, de espaços para encontros e ampliação da escuta. O respeito e valorização à autonomia dos usuários SUS deve se somar à cooperação e corresponsabilização dos membros da equipe. Os Trabalhadores da Saúde deverão urilizar habilidades de comunicação para realização de uma adequada expressão verbal, com bom humor, tratando as pessoas com empatia e com uma postura ética. Todos esses aspecros podem ser estimulados pelos gestores das equipes, ou seja, pela equipe de nível superior da ESF.
Acadêmicos consideraram que a Estratégia Saúde da Família pode ser considerada com uma importante ferramenta para reorientar o modelo de assistência na Atenção Básica. Ela deve ser operacionalizada, com a implantação de equipes interprofissionais nas unidades de saúde responsáveis pelo acompanhamento de até mil famílias que residem em uma determinada área geográfica.
Estudantes explicaram que as equipes são constituídas, no mínimo, por um médico de família, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Esses profissionais atuam realizando ações de promoção à saúde, prevenção e recuperação, agindo também na reabilitação de doenças e agravos que são mais frequentes. Devem atuar também, na manutenção da saúde da comunidade, no seu cotidiano. A Longitudinalidade foi ressaltada como primordial para o sucesso da Estratégia, correspondendo a um acompanhamento “ao longo da vida” das pessoas atendidas pela ESF.
A Facilitadora considerou que o modelo da ESF deve ser direcionado para o estabelecimento de vínculos de respeito e confiança, de compromisso e de corresponsabilidade com a população. Dessa maneira, contribui para ampliar os cuidados primários, com foco na criação de ambientes saudáveis, nos princípios da equidade e integralidade da assistência, trabalho interdisciplinar, enfoque familiar. A Política Nacional da Humanização, deve ser aplicada na ESF, complementando a produção de um cuidado direcionado às Necessidades de Saúde das pessoas.
Acolhimento e vínculo foram considerados pelos estudantes como diferenciais positivos na ESF, em relação ao modelo tradicional, “biomédico” de atenção à saúde.
Os processos de trabalho focados na “doença” e aoenas na “queixa principal” e atual do usuário SUS podem fragilizar a criação de boas relações interpessoais entre equipe e usuário. Facilitadores consideraram que a relação “queixa-conduta” pode influenciar de maneira negativa na adesão das pessoas da comunidade, às ações orientadas pela equipe de Saúde. Os resultados desse “atendimento superficial” podem se relacionar à fragmentação do cuidado e distanciamento entre equipe e pessoas que residem no território de saúde.
A Gerente da ESF considerou também, que o bom relacionamento entre os membros da equipe de saúde deve ser um fator capaz de influenciar positivamente na assistência prestada ao usuário do Sistema Único. Dessa maneira, os conflitos de relacionamento na equipe, envolvendo falta de diálogo, respeito e confiança e dificuldades de comunicação, devem ser “resolvidos” pela Equipe de Nível Superior da Unidade, para que problemas de autoestima, desânimo e esgotamento emocional possam ser evitados no trabalho cotidiano.
A boa qualidade do serviço prestado guarda relação com a “saúde do trabalhador”, e deve ser foco de atenção dos gestores da Unidade de Saúde. Quando uma “atitude não acolhedora” dos profissionais for identificada pelos gestores, por meio da leitura da “caixa de sugestões” da Unidade, devem perceber que ela pode ser resultado da acomodação do “modo de se organizar o trabalho”. Nunca podemos supervalorizar os procedimentos e processos em detrimento de pessoas. Por isso, as reuniões de equipe são tão importantes e precisam ter frequência semanal, nas ESFs. As tecnologias duras ou leve-duras não podem ser supervalorizadas pelas equipes das ESFs, esquecendo-se da escuta qualificada, respeito, confiança e diálogo, que correspondem às tecnologias leves.
Os participantes consideraram como positiva a ação de Educação Permanente desenvolvida na na ESF, com foco nos Processos de Trabalho em Saúde e na utilização de Tecnologias Leves como instrumento de cuidado.

Referências:
Tecnologias relacionais como instrumentos para o cuidado na Estratégia Saúde da Família.
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=https://www.scielo.br/scielo.php%3Fpid%3DS0034-71672017000500981%26script%3Dsci_arttext%26tlng%3Dpt&ved=2ahUKEwiro-W8pd3wAhXtqZUCHf3nDUwQFjAAegQIBRAC&usg=AOvVaw3MPg5e-C1H93RtrKEYpIjb
Acesso em 17 05 2021, às 11h 10min.