Entre o Brincar e o Cuidar: Uma experiência de um interno de Medicina em um CAPS Infantojuvenil

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Meu nome é Leonam de Oliveira Silva, sou interno de Medicina do 9° período da Universidade Federal de Alagoas e venho, através deste relato, descrever a minha experiência no CAPS Infantojuvenil(CAPSI) Dr. Luiz da Rocha Cerqueira.

Confesso que, apesar de já ter vivenciado 4 anos no curso de Medicina, antes de iniciar o estágio de Saúde Mental, tinha pouquíssimo conhecimento sobre o trabalho da Rede de Atenção Psicossocial(RAPS) e de que modo se dava a sua articulação e atuação na sociedade. Mas esse paradigma, felizmente mudou, a partir do momento em que pude vivenciar e acompanhar a rotina do CAPSI em Maceió.

Antes de vivenciar o estágio, uma das perguntas que eu sempre me fazia era: “Será que é realmente necessário um CAPS para crianças e adolescentes ?” e será a partir desta reflexão que narrarei a minha experiência vivida no CAPSI.

Desde o 1° dia do estágio, fui muito bem recepcionado por toda a equipe do CAPSI que me apresentou toda a estrutura e funcionamento da unidade, bem como as suas formas de integração com a comunidade.

Em primeiro plano, pude perceber que como a maioria de muitos serviços públicos em nosso país, a equipe do CAPSI enfrentava sérios desafios de ordem material e logística, mas que apesar disso, toda a equipe empenhava uma esforço hercúleo para oferecer a melhor experiência e cuidado para todos os indivíduos.

No CAPSI pude vivenciar uma forma de cuidado sob a ótica de uma equipe multiprofissional integrada, abarcando educadores físicos, nutricionistas, enfermeiros, psicólogos, médicos, dentre muitos outros profissionais, sendo algo bastante enriquecedor para minha formação.

Sempre que possível, procurava conversar com as crianças e os seus responsáveis no CAPSI, entendendo as suas histórias de vida, dificuldades e desafios, bem como as perspectivas que muitos deles tinham para além do estigma da patologia psíquica e sinto que esses momentos foram, sem dúvidas, os mais marcantes da minha experiência. Pude entender como o processo de adoecimento mental afeta não só as crianças, mas também toda a sua família. Compreendi também que tal como a renomada escritora Lya Luft descreve, “… a infância é um chão que a gente pisa a vida inteira…”, tais transtornos psíquicos afetam não somente a criança em curto prazo, mas que podem comprometer também todo o seu desenvolvimento futuro.

E valendo-me da premissa clássica, que cuidar das crianças é cuidar do futuro, pude ver o quão importante eram as ações desenvolvidas no CAPSI, desde as oficinas realizadas com as crianças, aos passeios na comunidade, às reuniões do grupo família e às reuniões de conselho, tudo era feito com muito carinho pensando no bem-estar e em uma ampla perspectiva de cuidado a ser ofertado às crianças.

Agradeço a toda equipe do CAPSI por todo o acolhimento ofertado a mim durante o período, em especial à oficineira Q.S.C, a qual tive o prazer de acompanhar diversas oficinas orientadas sob sua supervisão, que agregaram enormemente à minha formação.

Saio agradecido e entendendo, mais do que nunca, a importância da RAPS e do CAPSI para o cuidado das crianças e adolescentes.