A miséria da moral
O problema não é de falta de recursos. Nem a porra da dívida pública ou do déficit fiscal. Não se trata de falta de dinheiro. Muito menos, não sejamos hipócritas, de escassez. Não vivemos num contexto de atores racionais, disputando recursos insuficientes num mercado livre.
O problema é que não podemos viver sem miseráveis, sem escravos, sem marginais.
Somos viciados em moral, em pecado, erro e derrota. Daí nossa intensa produção de pecadores, derrotados e perdedores. Somos dependentes de alguém, qualquer um, que seja mais ferrado que nós mesmos. Só assim suportamos viver mais um dia, em sombrio acordo com o sistema que sustenta nossa miséria.
São eles, sem eles, os deserdados do mundo não há sentido no capitalismo. Não sabemos criar valor sem a miséria. Esse é o abuso por trás de toda fraudulenta demonstração de força, crueldade e assassinato.
O americano médio aceita a pobreza e a privação de direitos em troca de se sentir melhor que os demais povos do planeta e por não ser negro, nem mestiço.
Do mesmo modo, parte da classe média brasileira aceita qualquer humilhação, desde que os pobres míseraveis estejam em pior condições.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Oi Marco,
Um dos efeitos da vida em redes virtuais é poder encontrar um lugar de desabafo em meio a tanta iniquidade. De fazer de nossas angústias um comum a muitos outros. De encontrar todo tipo de escuta possível e poder trocar impressões com outros. Eu sempre falo dos intercessores por aqui, conceito fundamental porque pragmático, na medida em que nos ajuda a continuar no combate sem perder a potência. São encontros imprescindíveis.
Um deles tem sido me deparar com certos intercessores como o alimento de resistências fundamentais hoje. Concordo com a tua análise do modo como chegamos a este estado de coisas tao dramático. Mas, para que não esmoreçamos no meio do caminho, há que se instrumentalizar para a sempre presente luta com os poderes paralisantes.
Leituras de certos autores são para mim um desses intercessores. O livro Biocapitalismo, de Toni Negri, por exemplo, tem aberto buracos numa certa narrativa desanimadora e mortífera. A crise da representaçao política pode desembocar em novas possibilidades de luta, como por exemplo a ocupaçao do espaço publico e seus desdobramentos estratégicos. Inventar novas estratégias, sem apelar somente ao sujeito político tradicional, onde os desejos represados se agrupam num comum parece reencantar tudo.
Lutemos juntos!
Abrasus!!!!!!