Gente cuidando de gente

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Resenha do artigo –  Trabalhador da Saúde: Gente cuidando de gente.

Autoras do artigo: Fabiana Schneider, Carolina Santos da Silva

Autoras da resenha: Beatriz Zoccoler e Raquel Azevedo

Caderno HumanizaSUS, Formação e intervenção, volume 1.

O foco do texto é explorar aspectos que envolvem o trabalho na área da saúde e a saúde do trabalhador. Neste contexto, fez-se importante salientar uma das prioridades da Política Nacional de Humanização que é valorizar o trabalho criativo, abrindo o espaço para pensar o protagonismo dos trabalhadores da saúde e as implicações da função de cuidar que é exigida dos mesmos.

Tendo em vista que o trabalho ocupa um papel organizador na vida das pessoas (interferindo na auto-estima, nos relacionamentos interpessoais) ao trabalhar diretamente com o outro, muitos sentimentos são acarretados no trabalhador da saúde, que sofre a exigência de dar respostas imediatas que aliviem a dor e o sofrimento do outro. Diante disso, as autoras perguntam: como fica o sentimento do trabalhador ao se encontrar diante de situações que não pode dar contar? A resposta foi a que, pode-se pensar na importância e na frustação mas que, por outro lado, amparar o outro em suas necessidades gera a sensação de potência e traz satisfação. Sendo assim, as autoras partem do pressuposto de que o trabalho pode ser fonte de saúde e doença e, o trabalhador do SUS, está constantemente lidando com as fragilidades do ser humano; e que são poucos os espações para refletir-se sobre as fragilidades deste trabalhador. Portanto, elas colocam aqui um ótimo argumento: Promover saúde nos locais de trabalho implica, necessariamente, no fortalecimento da capacidade individual e coletiva para transformar as situações que agridem e fazem sofrer.

Como estudante de psicologia, concordo plenamente com a posição das autoras, inclusive no argumento onde elas refletem que podemos pensar no lugar de representação materna que os trabalhadores da saúde ocupam, à medida que se encontram na função e dar ouvidos e atenção ao sujeito, que procura o serviço de saúde e que necessita de cuidado. Além destas peculiaridades do campo, destacam também a constante pressão em não poder errar por estar lidando com o ser humano. No entanto, estes profissionais também são sujeitos de sofrimento e medos e, como tal, necessitam de cuidado. Precisam de alguém que lhes invista um olhar de atenção, de continência das angustias e ansiedades despertadas em cada caso, no contato com a dor e o sofrimento dos usuários que atende.

O problema, é que, devemos levar em conta, que no setor público o trabalho sofre grande instabilidade e isso pode ser observado na demanda que reflete no adoecimento do trabalhador. Há a dificuldade no trabalho em equipe, poucos espações de cogestão, excesso de atividades, falta de reconhecimento por parte do usuário, necessidade de capacitação continuada, entre outros. Não existe ume espaço de trocas entre os trabalhadores. No texto, as autoras citam lindamente a seguinte frase de Dejaour: “trabalhar não é unicamente produzir; é também, e sempre viver junto”. Onde viver junto seria a troca de experiências e aprender com as diferenças do outro.

Portanto, as autoras deram a proposta de criar rodas – espaços coletivos -, onde o trabalhador possa falar de sentimentos, lidar com os conflitos e aprender com as diferenças. E isso não é uma tarefa fácil, pois a tendência do ser humano é projetar as dificuldades no outro e não encarar o problema de frente, o que acarreta em sintomas que se manifestam através do clima institucional. Por fim, comentaram sobre um experiência com essa proposta deu certo no Rio Grande do Sul, o que nos traz grande esperança de que ela possa ser continuada em todos os hospitais e unidades de saúde no nosso país.