Inteligência artificial e aprendizado de máquina não são mais hipóteses ou possibilidades em aberto. Os dois fenômenos já se mostraram reais e, em muitas áreas, superiores às habilidades humanas.
O motorista de um carro autônomo não é uma inteligência artificial (IA) singular competindo com um indivíduo humano ao volante. São duas maneiras diferentes de uso da consciência situacional através da comunicação e processamento de dados.
Um carro autônomo é guiado por uma IA em rede que está dirigindo ao mesmo tempo todos os carros. Enquanto nós temos dificuldades de comunicação e interação com os demais condutores, e podemos interpretar ou prever equivocadamente suas decisões, a IA está conectando todos os carros e todos os trajetos numa rede integrada que se comunica, praticamente, sem ruídos.
É com isso que os algoritmos biológicos que herdamos de milhões de anos de evolução estão lidando quando nos defrontamos com a habilidade dos indivíduos versus a habilidade de uma inteligência articulada em rede. Isso vai afetar médicos, advogados, engenheiros e professores…
Ninguém está livre do efeito disruptivo de ver sua existência obsoleta em termos dos objetivos até aqui estabelecidos para existência humana e da obsolescência emergente de nossas habilidades.
Entre Lula e Haddad é provavelmente o segundo que estaria em melhores condições de lidar com esses desafios do século XXI. Mas você não vê ninguém entre liberais e conservadores com o mínimo de coragem para pensar sobre essas complexidades.
Agora, certamente, o último a ter algo a dizer sobre intersubjetividade e menos ainda sobre inteligência artificial é Jair Messias Bolsonaro.
A força emergente que vai modelar o mundo de nossos filhos e netos é menos importante do que a regulação da vida sexual e moral dos cidadãos na agenda desse candidato. A razão disso é que os conservadores e ultra liberais estão em pânico e sequer tem coragem de pronunciar o nome de seu maior desafio: uma humanidade viável como espécie, ao mesmo tempo conservadora nos costumes e modos de vida.
As regras perpétuas da existência são a imprevisibilidade e a mudança incessante.
Conservar exige a repetição cadenciada de eventos que se diferenciam sensivelmente a cada instante. Como a respiração que se repete a toda vez e jamais é a mesma em contexto e cenário.
Bolsonaro é a própria imagem da perplexidade de um conservador anacrônico que deseja o passado e jamais esteve tão distante do que é e do mundo para o qual desejava retornar.
Sua busca por restaurar um passado idílico que jamais existiu o levou para uma realidade que nunca imaginou. Nada é mais disruptivo do que realizar um desejo que nos coloca um desafio além de nossas forças.
Na prática a obsessão conservadora não promove o retorno a um mundo idealizado, apenas traz o pior do passado para um futuro que não pode ser conhecido por antecipação. A política é somente uma das forças do século XXI. Não é nem mesmo a mais forte.
O mundo segue mudando rapidamente. A ameaça das mudanças climáticas, da guerra nuclear e da disruptura tecnológica tornam o projeto conservador um plano suicidário. Do mesmo modo os fundamentos do liberalismo democrático precisam ser reinventados no contexto do surgimento da Inteligência Artificial e do aprendizado das máquinas.