Libras e Saúde: acessibilidade da Comunidade Surda à Rede Básica de Saúde

16 votos

Boa tarde pessoal!

Sou acadêmica do 4º semestre do curso de graduação em Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA) e venho trazer uma reflexão acerca da importância da Língua Brasileira de Sinais(LIBRAS) e do acolhimento do usuário surdo no Sistema Único de Saúde (SUS). Meu interesse pela comunidade surda surgiu após cursar nas férias uma ACE de Libras, na volta às aulas, me direcionei para essa área no estágio básico supervisionado I, estou estagiando na Escola Estadual de Educação Especial Reinaldo Fernando Cóser, a escola é referência no Rio grande do Sul, por atuar na educação da comunidade surda, deficientes auditivos e deficiências múltiplas, desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA, Ensino Médio, Curso Normal – Formação de Professores Surdos.

As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, possuindo diferenças em relação aos hábitos, situações socioeconômicas e variações linguísticas regionais. A comunidade surda enfrenta muitos desafios educacionais, sociais e no acesso à saúde. No Brasil, tendo em vista, que por representarem uma comunidade minoritária linguística e cultural, os indivíduos surdos se deparam com diversas dificuldades para obterem acesso aos serviços básicos, como os serviços de saúde. Apesar do SUS ter tido importante papel na extensão da assistência da população brasileira, a comunidade surda sofre com a indiferença da sociedade e têm menor alcance aos serviços do SUS.

Os direitos dos usuários de serviços de saúde da comunidade surda, estão garantidos pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência, é obrigatório a organização dos serviços do SUS para atendimento desses usuários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Os eixos da universalidade, equidade e integralidade, característicos do SUS só são efetivos quando existem formas de fazer acontecer esses eixos, para que haja um aumento do índice de transversalidade, de investimento em projetos que aumentem participação institucional da comunidade surda (BENEVIDES, 2005). No entanto, pode-se observar que o sistema público de saúde ainda apresenta falhas e obstáculos no atendimento desses indivíduos, o acolhimento é o maior desafio para os profissionais da área da saúde.

Segundo Tedesco e Junges (2013), o acolhimento basea-se na construção de relações de confiança e solidariedade entre os profissionais da área da saúde e as pessoas que buscam o atendimento para a resolução de seu problema. Acolher é fundamental para que se estabeleça um vínculo com o paciente, contribuindo significativamente para que aconteça o direito à saúde. Diante disso, o acolhimento na rede básica de saúde, é fundamental pois é um dos momentos onde ocorrem os mais diversos conflitos éticos e acolher as necessidades da saúde da comunidade surda é um grande desafio para os profissionais.

Nas unidades básicas de saúde, a dificuldade comunicacional é o maior obstáculo no atendimento da comunidade surda, o que pode ser atribuído à falta de conhecimento, capacitação e despreparo dos profissionais da área da saúde, até mesmo na forma de como interagir ou se portar diante do paciente surdo. A comunidade surda ainda se depara com obstáculos na acessibilidade à saúde devido a carência de humanização na relação profissional-paciente e ao pouco conhecimento da comunidade surda em relação ao processo de saúde-doença e a dificuldade do processo de inclusão dos surdos na sociedade.

A língua portuguesa tem um vocabulário e a gramática totalmente diferentes da Língua Brasileira de Sinais, o que acaba dificultando a comunicação escrita, já que ela deve ser feita com termos que possam ser facilmente compreendidos, visando facilitar a comunicação, tornando possível transmitir conteúdos complexos como receituários de maneira simples. A comunidade surda apresenta condições de saúde inferiores em relação às ouvintes e também acessam os serviços de saúde de forma diferente. Os indivíduos surdos sentem a necessidade de maior inclusão em atividades desenvolvidas para a população geral, especialmente aquelas que abordam conhecimentos sobre educação em saúde, proporcionando ao usuário autonomia para cuidar de si próprio e até mesmo dos outros (SOUZA. et al, 2017).

Por fim, vivemos em uma sociedade ouvinte e oral, onde o acesso à saúde ainda é um grande desafio na rede básica de saúde, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas e programas de saúde com ações voltadas para a comunidade surda. Além de que, é fundamental que os profissionais da saúde possuam domínio da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), que sejam ofertados cursos de capacitação, oficinas de conscientização, para que os profissionais tenham um maior conhecimento sobre a cultura surda, e sintam-se capacitados para o atendimento e acolhimento desta comunidade, compreendendo o surdo como indivíduo bilíngue e multicultural, oferecendo um atendimento de qualidade para o paciente surdo nos serviços de saúde, promover saúde é promover qualidade de vida. Considerando a relevância nos dias atuais, ressalta-se a necessidade de mais estudos e pesquisas sobre o tema.

REFERÊNCIAS

BENEVIDES, A. Psicologia e o sistema único de saúde: quais interfaces? Revista Psicologia & Sociedade; n.17, v.2, 21-25, 2005.

FONTE IMAGEM 1-
https://www.ifpb.edu.br/noticias/2017/07/ifpb-realiza-pesquisa-sobre-tas-com-habilitacao-em-libras/libras-550.jpg/view

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Brasília: Política Nacional de Saúde da Pessoa com deficiência. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_pessoa_com_deficiencia.pdf
(acessado em 19/02/2019).

OLIVEIRA, L.M.B. Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília, 2012.

SOUZA, M. F. N. S. et al. Principais dificuldades e obstáculos enfrentados pela comunidade surda no acesso à saúde: uma revisão integrativa de literatura. Revista CEFAC. São Paulo-SP, v. 19, n.3, 395-405, 2017.

TEDESCO, J.R; JUNGES, J.R. Desafios da prática do acolhimento de surdos na atenção primária. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.29, n.8, 1685-1689, 2013.

Texto elaborado pela acadêmica Etiele Morais Carvalho para a disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde do curso de graduação em Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. Orientada pelo Professor Me. Douglas Casarotto.