O sistema manicomial, ao longo da história, tem sido objeto de críticas e controvérsias devido às suas práticas desumanas e violações dos direitos humanos. Para exemplificar essa problemática, podemos comparar o histórico manicômio em Barbacena, Minas Gerais, com uma contemporânea Instituição psiquiátrica em Maceió
O manicômio em Barbacena, conhecido como Hospital Colônia, é infame por suas condições deploráveis e abusos sistemáticos contra os pacientes. Durante décadas, os internos foram submetidos a tratamentos desumanos, incluindo eletrochoques, lobotomias e confinamento em condições desumanas. O local ficou marcado por uma cultura de negligência e violência institucionalizada, onde os pacientes eram frequentemente tratados como menos que humanos, privados de dignidade e autonomia.
Durante visitas pelos corredores da Instituição, em Maceió, pude observar de perto tanto os esforços para uma abordagem mais humanizada no tratamento psiquiátrico quanto as limitações que ainda persistem, às vezes ecoando os problemas históricos observados em instituições como o histórico manicômio em Barbacena.
Embora tenha havido uma tentativa visível de criar um ambiente terapêutico e acolhedor, não pude deixar de notar algumas falhas que me fizeram refletir sobre a natureza do sistema de saúde mental. Os corredores preenchidos de pacientes em condições de internação, alguns rosto semelhantes ao visto no filme “Em Nome da Razão”, que representa a realidade de Barbacena. Isso levantou questões sobre a qualidade do cuidado individualizado que cada paciente poderia receber em um ambiente que tenta acolher mais individuo do que a sua capacidade suporta. Infelizmente, muitos não enxergam as semelhanças com Barbacena, e poucos se espantam como Manuel Bandeira no poema “O bicho”. O bicho, que não é um cão, não é um rato, não é um gato. O bicho é um homem!. Muitas vezes é mais um ali esperando o seu fim, colecionando mais de 40 anos na instituição.
Mesmo com os avanços, ainda persistem desafios no sistema atual de saúde mental. A falta de financiamento adequado, a escassez de profissionais qualificados e a estigmatização contínua das doenças mentais são apenas alguns dos obstáculos enfrentados. Além disso, a institucionalização excessiva e a medicalização em excesso continuam a ser preocupações, com alguns pacientes ainda sendo submetidos a internações involuntárias prolongadas e tratamentos coercitivos.
Portanto, enquanto não houver progresso na transformação do tratamento psiquiátrico, ainda há muito a ser feito para garantir que os direitos e a dignidade dos pacientes sejam respeitados plenamente. É essencial que continuemos a promover abordagens mais humanizadas e centradas no paciente, reconhecendo a complexidade das questões de saúde mental e trabalhando para criar sistemas que verdadeiramente apoiem a recuperação e a inclusão social.
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Por Sérgio Aragaki
É sempre bom lembrar que desde o século passado já contamos com serviços especializados em saúde mental para cuidar de pessoas em crise psiquiátrica aguda: leitos de saúde mental em unidades de urgência e emergência (por ex: UPAS e hospitais gerais), Centros de Atenção Psicossocial tipo III (também conhecidos como CAPS 24 horas). Esses serviços contam com equipes multiprofissionais que trabalham interdisciplinarmente, constituindo a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
Além dos hospitais psiquiátricos, citados por você, é importante reconhecer que as ditas comunidades terapêuticas têm sido apontados como os novos manicômios. Lugares de produção de violências, desrespeito e violação de direitos humanos e mortes.
Seguimos na defesa do cuidado em liberdade!
Nenhum passo atrás, manicômios nunca mais!