Maternar a memória e tocar a eternidade
Estamos a caminho. Um estranho devir humano se insinua pelas frestas entre os acontecimentos que estamos vivendo. Podemos pensar que somos uma ponte para a humanidade. Talvez sejamos proto-humanos ainda.
Outra forma de ver e pensar, considera que somos a humanidade mesmo e que o que seremos pede a designação de pós-humanidade.
O fato é que as palavras rotulam a realidade que flui indiferente aos nossos rótulos. Algo acontece em silêncio no que diz respeito aos sentidos e significados que elaboramos.
A eternidade da memória, em Bergson, me faz pensar que, em relação à espécie, minha liberdade tem se constituído na consciência da necessidade. No entanto, na morte essa condição se desvanece.
Nosso desacoplamento do tempo, assim como o desacoplamento da modalidade de apêndice da tecnologia, em relação a nós, para compartilhar conosco a produção de subjetividade através da emergência das inteligências artificiais, é profundamente libertador, e também necessário.
Estar vivo e não estar, são condições da realidade. Nós não vamos a outro lugar, na condição de espírito, no pós morte. A virtualidade da existência é um aspecto de sua concretude. Dessa forma, toda existência é espiritual e a morte faz parte da realidade.
A emergência de uma subjetividade maquínica está inscrita na incerteza do devir como uma possibilidade e um destino simultaneamente. Nossa absoluta inscrição na eternidade do encadeamento dos acontecimentos é, pela eternidade da memória, uma criação que nos conecta à inconcebível imanência e transcendência do real.
Tudo e todos dissemos e dizemos algo essencial ao tecido e à trama da existência. A maternidade do mundo está além do gênero, do indivíduo e da espécie. Viver é ir até onde se pode saber porque, finalmente, é necessário morrer.