O que fez os humanos parecerem muito diferentes dos demais animais foi a capacidade de criar narrativas e crer nelas coletivamente. Confundir o complexo emaranhado de narrativas humanas com a verdade é uma necessidade humana tão recorrente, quanto perigosa.
Nossa intersubjetividade é parte de uma revolução cognitiva que remonta desde cerca de 70 mil anos. Essas narrativas nos conferem poder, na medida em que nos permitem empreender grandes esforços solidários.
No entanto, nossas fábulas são mitos, auto ilusões sofisticadas que podem extrair um significado que nos fortalece, mesmo dos mais dolorosos acontecimentos. Nossas crenças não tem nada a ver com uma suposta verdade factual. Elas são ferramentas para a sobrevivência de indivíduos, bandos, tribos, povos, culturas e nações.
Se prestarmos suficiente atenção veremos que religiões, fascismos, utopias, mitos e fale news são ramificações de uma mesma árvore: Nossa necessidade de crer em ilusões. Alguns galhos são venenosos. Outros nos deram bons frutos. De qualquer modo, não teríamos chegado até aqui sem as crenças coletivas. Igualmente se não formos adiante, isso terá a ver com o efeito maléfico do auto engano.
Quando Nietzsche preferiu a questão do valor da verdade em lugar da busca por uma verdade última, demonstrou uma lucidez intensa a respeito do que, de fato, podemos fazer com o conhecimento.