Mulher alivia angústia da longa hospitalização na produção de bijuterias no Hospital Galileu
Entre idas e vindas, há dois anos na unidade, o artesanato se tornou um recurso de terapia para o corpo e para a mente de microempresária
Referência do Governo do Estado em traumas ortopédicos, o Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), na Grande Belém, mantém alto índice de pacientes de longa permanência, que, durante a internação, criam mecanismos para passar o tempo e aprimorar habilidades que já tinham antes do período de hospitalização. A microempresária, Kenya Siqueira Linhares, de 44 anos, é um exemplo disso. Entre idas e vindas, ela está, há dois anos, fazendo tratamento na unidade, após fraturar uma perna, durante uma queda na tirolesa. Neste tempo, ela passa o tempo confeccionando acessórios femininos e criando peças dignas de grandes grifes.
Entre os medicamentos, as sessões de fisioterapia, as cirurgias e as visitas médicas, aos poucos, delicados encaixes de miçangas vão ganhando forma até se transformarem em belas tiaras, colares, brincos, chaveiros e até acessórios para telefone celular. É pelas mãos de Kenya, sob a ótica de um leito hospitalar, que as peças com design modernos e coloridos vão dando vida ao quarto de hospital. Apesar de o passatempo ser feito no Galileu, foi bem longe da unidade que iniciou a terapia.
Moradora de Nova Ipixuna, no sudeste do paraense, ela iniciou as atividades com uma brincadeira. “Eu estava em casa quando tudo começou, há oito meses. Sentada na porta do meu comerciozinho, vi umas peças de bijuteria. Eu as peguei, desmanchei e disse que ia fazer uma tiara para colocar no meu cabelo, logo depois que eu fiz um corte nele”, relembrou. Com a peça feita, Kenya mostrou às amigas, que ficaram impressionadas com a delicadeza e resolveram fazer encomendas.
“Eu comecei a fazer para uma, para outra, até que tive uma intercorrência e voltei para o Galileu. Para me distrair, passar o tempo, comecei a fazer dentro do hospital, após a autorização da equipe”, comentou. Kenya já foi hospitalizada na unidade por oito vezes, em dois anos. “Recebi, em junho, a notícia que eu teria de voltar por mais 42 dias, foi um desespero. Até hoje estou aqui (23 de novembro), e isso e o artesanato tem me ajudado a vencer, dia após dia”, comentou.
Para Kenya, a atividade trouxe benefícios imensuráveis. “Recebi permissão de fazer isso aqui. E toda vez que eu tiver a oportunidade de fazer alguma coisa, dentro de um hospital, eu vou fazer. Isso é um dos benefícios que o Galileu oferece ao paciente que tem de tomar medicação, fazer procedimentos. A atividade, hoje, me dá força para vencer”, afirmou. As peças são distribuídas às amigas e parentes, e outras, são vendidas fora da unidade, por encomenda.
Tratamento
A microempresária chegou ao Galileu sem esperanças de recursos proporcionados pela medicina. Na unidade, ela passou por diversos tratamentos para a osteomielite – infecção conhecida como “morte do osso”, causada pela ausência de circulação de sangue, em função da queda de uma tirolesa. “Depois que eu caí, os médicos disseram que eu ia ter de amputar minha perna. Mas, quando cheguei no Galileu, disse isso ao doutor Preti e ele me disse que não. Ele falou que não tinha estudado para isso e até hoje estou aqui, lutando pela minha saúde”, enfatizou a paciente.
Entre ela e o ortopedista Marcus Preti nasceu uma grande amizade. “Trabalho no Galileu há quatro anos, e pra mim, é uma alegria acordar para estar aqui neste lugar, onde todos os processos evoluem e a gente sabe o quão bem a gente faz aos nossos usuários que buscam tratamentos de ortopedia no Pará”, comentou o médico.
Humanização
Apesar de a atividade não ser um projeto da unidade, os profissionais de saúde do Galileu acreditam que estes recursos podem proporcionar uma melhora na evolução do quadro do paciente. “Esse tipo de atividades reflete na qualidade do atendimento prestado no Galileu. A atividade dá a possibilidade de proporcionar uma melhora significativa no quadro de saúde da paciente, possibilitando uma vivência hospitalar mais acolhedora, humanizada e menos traumatizante, fortalecendo vínculos entre paciente, família e equipe do Hospital”, enfatizou a enfermeira Anny Segóvia, coordenadora de Humanização do Galileu.
Administração
Gerenciado pelo Instituto Social e Ambiental da Amazônia (ISSAA), em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sespa), a unidade pública é referência no Estado do Pará, graças à excelência e humanização do atendimento, presentes desde a recepção até as consultas médicas e exames diagnósticos.
“O trabalho desenvolvido no Galileu é um exemplo a ser seguido em outras unidades hospitalares. Somos referência em qualidade de atendimento e humanização. Mas, isso só foi possível com trabalho, como este desenvolvido com a dona Kenya. Nossa equipe está sempre atenta às melhores condutas para a recuperação de nossos pacientes”, observou Alexandre Reis, diretor executivo do Hospital Público Galileu.