Rodas de Debulha e Contação de Histórias – Estratégia Comunitária de Promoção de Saúde

  Herlon,

       Compartilho contigo estes argumentos que apresentas, e vejo muita riqueza nesta idéia !!!  Mas não só isso, vejo muita contemporaneidade uma vez que esta proposta tem indícios de uma transdisciplinaridade da Clínica que vém resgatar saberes tradicionais, nossas raízes indígenas, tecnologias relacionais, Ecologia Integral e tanto mais !!

       Vá em frente e escreva sobre isso. Leve para a atenção como cuidado, mas quem sabe também como pesquisação, pesquisa-intervenção, quero dizer. Dá mesmo uma Tese !

        Um abraço,

        Shirley Monteiro.

Herlon, post realmente "muito lindo!!", como disse a Shirley. Penso em Riobaldo: "O sertão é maior que o mundo"!

Abs,

Pablo Dias Fortes

 Muita alegria nessa foto. Mostra que não precisamos de muito para nos contagiar. E a proposta de horta na UBS vai por essa via da simplicidade…

Muito bom, Herlon!

um beijo

Iza

Car@s Pablo e Shirley,

Desde de cedo vi seus comentários. Estive, desde então, aberto a que o mundo me dissesse como respondê-los à altura do que acabam por significar hoje pra mim: o Pablo, um "amigo velho", de quem já compartilho família e sonhos; de Shirley, alguém que, apesar de nunca ter encontrado fisicamente, compreendeu tão profundamente o que está nas entranhas daquilo que "postei", que me provocou um sentimento ambíguo de intimidade e vergonha…

Como estou lendo "O Rastro do Jaguar", de Murilo Carvalho, desde aí percebi que não poderia respondê-los melhor que transcrevendo-lhes o seguinte:

"(…) Todos aqueles discursos que cheios de arroubo que acostumáramos ouvir de Pierre, principalmente durante o período em que ensaiou e depois executou o trabalho de Wagner, estavam ali, refletidos nas cartas de Jeanne, que certamente ajudavam-no a consolidar suas ideias.

Outra coisa que me chama a atenção: aqui há cartas datadas de muito anos antes de Pierre saber de sua origem americana e, no entanto, parecem uma premonição do que mais tarde iria acontecer. Jeanne fala dela mesma, de sua terra distante, da saudade que sentia de sua pequena cidade, de sua infãncia correndo entre bananeiras e chapinhando nas águas de um mar muito azul, como nunca vira na Europa; falava de frutas, de noites em roda de um fogueira, das danças, da liberdade de menina numa aldeia onde os costumes africanos ainda eram lembranças frescas na memória coletiva. E dizia a Pierre: << Saiba que por todas aquelas ilhas do Caribe existem milhares de homens com teu jeito, com teu rosto, com teu cabelo. Mesmo na minha aldeia, além de negros e mulatos, vivem índios antigos que se parecem contigo. Porque, um dia, não voltamos juntos para lá e talvez encontres tua gente?>>.

E dessa forma me fazia perceber que as angústias de Pierre com sua origem surgiram bem antes de conhecê-lo e conhecer sua música e que já havia, latente em seu coração, o desejo de encontrar mesmo seu povo. Mas qual era a raiz desse desejo? Não seria apenas porque se sentia um homem diferente dos outros, por causa do permanente preconceito com que era tratado na sociedade francesa, principalmente entre os burgueses pobres? Deveria haver alguma outra razão mais profunda, a certeza, talvez, de pertencer a outra terra, a impossibilidade de se adaptar a uma sociedade que julgava inepta para a vida, como muitas vezes me afirmou. Na verdade, acho que a rebeldia de Pierre nada tinha a ver com sua origem desconhecida e nem com o preconceito dos franceses; era uma rebeldia nascida da compreensão de que aquela nova sociedade francesa, que havia brotado da revolução, não conseguira romper os velhos laços de egoísmo e prepotência; as lutas tao intensas não serviram, de fato, para sacudir dos braços, das pernas e dos cérebros a preguiça de construir um mundo diferente, onde a igualdade e a fraternidade fossem verdades tão definitivas que envolvessem até mesmo os pequenos atos do dia a dia. A velha utopia, a sagrada utopia dos homens de bem, parecia sufocar Pierre de tanto desejo e talvez tenha sido essa a razão principal da esperança de que sua origem estivesse mesmo numa região distante e selvagem, onde, talvez, essa utopia ainda fosse viável" …

Caro Herlon,
Que bela ideia, que lindo post!
E o comentário que nos traz com trechos de “O Rastro do Jaguar” é igualmente encantador.
Debulhar milho, trigo, feijão, pilar arroz. Trans-formar.

Enfeitar salões, calçadas, terreiros ou alpendres  com bandeirolas coloridas onde nem a cola é utilizada.

Os dedos de todos a se lambuzarem mergulhando na panela do “grude” que vai grudar as bandeirolas nos barbantes: mistura de goma e água, somente. Cortes de pano floridos que se transformam em camisas, vestidos e laços para os chapéus. Atividades que só se fazem juntando gente; uma festa de cores e alegrias para todas as idades.
Rodas sertanejas vivas onde a regra é brincar com as mãos, com os grãos, com as palavras. Desarquivar memórias, situar-se no mundo, recriar-se a partir das raízes.
Debulhar as histórias, narrativas contadas por quem as vive, uma por uma, assim como os grãos entre os dedos, é retomar significados, reacender outras fogueiras !

Um grande abraço,

Jacqueline

só pediria que todos tivessem em comum, pelo menos, o direito de votar em teu post incontáveis vezes.

Um grande abraço!