É impossível fazer gestão sem compartilhar e incluir as pessoas
É com esta frase que a supervisora do Plano de Qualificação das Maternidades Vera Figueiredo inicia o debate, quando o tema é a cogestão, uma das diretrizes da Política Nacional de Humanização para auxiliar na qualificação do SUS. A partir de sua experiência com gestão hospitalar compartilhada, ela atua juntamente com as demais supervisoras no apoio à implementação de uma nova forma de gestão nas maternidades da Amazônia Legal e Nordeste.
No primeiro semestre de 2010, nove das 26 maternidades do Plano alcançaram avanços significativos em cogestão. Entre elas, a Santa Casa de Misericórdia do Pará, que já constituiu um grupo de trabalho a partir do Plano de Qualificação das Maternidades. Formado por trabalhadores de diferentes áreas da maternidade, o grupo discute semanalmente as inovações possíveis, como a criação de unidades de produção e colegiado materno-infantil. A apoiadora do Plano Rita Vianna, avalia como positiva essa mudança. “Discutimos processos de trabalho, resolvemos conjuntamente as questões, chamamos o usuário para a conversa e os trabalhadores também. ” Com o grupo de trabalho, conseguiu-se a garantia do direito ao acompanhante de livre escolha da mulher, por exemplo. Essa é uma maternidade de alto risco no estado e realiza cerca de 600 partos por mês.
A cogestão estimula que sejam criados espaços coletivos para trabalhadores da saúde, gestores e usuários se posicionarem sobre o serviço de saúde, em rodas de conversa, por exemplo, garantindo a circulação da palavra e a identificação dos problemas. É possível incluir e compartilhar propostas, e garantir sua efetivação e sustentabilidade pois, em grupo, as inovações ganham força e todos se sentem corresponsáveis pela mudança, construída em conjunto. Na prática, além das rodas de conversa, as apoiadoras buscam a formação de colegiados gestores, oficinas e reuniões com grupos estratégicos das maternidades, como a obstetrícia, neonatologia, vigilância, comitês de óbito, representações das secretarias de saúde, etc..
A Maternidade Evangelina Rosa, em Teresina – PI, por exemplo, realizou uma oficina sobre cogestão no primeiro semestre. A partir dela, as comissões de mortalidade materno-infantil e de controle de infecção hospitalar tem se reunido mensalmente para investigação dos óbitos. “Houve resistência inicial, pois a comissão existia mas não tinha ações efetivas. Hoje, ações simples, como a lavagem das mãos tem feito a diferença. ” afirma a apoiadora Soraya Maria. (FOTOS ) Segundo ela, no próximo dia 29 de setembro já acontecerá inclusive a reunião do Fórum Perinatal do Piauí.
Essa maternidade prova que a cogestao tem sido trabalhada ampliando a discussão e fortalecendo parcerias com as secretarias de saúde para a construção e o fortalecimento de redes perinatais, assegurando espaços ampliados de debate para os fóruns perinatais. O trabalho em cogestão é um dos alicerces para se avançar em outras frentes do Plano de Qualificação, com propostas para a garantia do acesso e acolhimento a todas as mulheres que buscam as maternidades.
“A conversa inclui as tensões e conflitos entendidos como analisadores dos processos de trabalho, e a partir deles, se buscam propostas de superação”, afirma Vera Figueiredo. Segundo ela, o momento do parto deve ser assegurado a todas, e priorizados os casos de maior risco e sofrimento para atendimento imediato, e para garantir o direito ao acompanhante e que esta pessoa seja da livre escolha da gestante e que esse direito seja estendido também aos recém-nascidos nas UTIs e UCIs neonatais, a gestão conjunta é essencial.
Outras maternidades que tem experimentado diferentes formas de cogestão são a Maternidade Candida Vargas (PB), o Instituto de Saúde Elpídio Almeida (PB), Barão de Lucena (PE), Bárbara Heliodora (AC), Ana Braga (AM), Balbino Mestrino (AM) e Marly Sarney (MA).
Qualquer maternidade pode adotar a cogestão para dar autonomia aos usuários e trabalhadores, e assegurar a qualificação da atenção e gestão. “ Ninguém agüenta verticalização mais, as pessoas querem participar, quando o trabalhador participa, os indicadores de trabalho melhoram muito.A cogestão resgata o protagonismo e autonomia da mulher”, finaliza.