Ninguém escapa deste fantasma que se chama “MORTE”

   Nercinda,

   Que bom encontra-la por aqui !

    Li teu post, e concordo com o que escreves, mas com uma observação: Desumana em si não seria a MORTE posto que tudo no qual há vida, há ciclo;  e a Morte é apenas parte dos ciclos, ou seja, … talvez apenas uma finitude aparente, parte de um ciclo maior.

    Desumana seria e são, algumas das várias condições de violência e injustiças nas quais a Morte se dá. Mas até esse lado sombrio, faz parte do  "humano demasiadamente  humano" uma espécie viva que comporta várias imperfeições, ainda.

    Por outro lado, a Morte e a consciência da presença desta em nossas vidas, e das pessoas que amamos e queremos bem, há todo e qualquer momento … nos chama para a VIDA , para a valorização desta, para aproveitarmos bem o tempo, para nos pormos em movimento enquanto estamos aqui na Terra, nesta missão ou nesta viagem … Em muitos aspectos a Morte ressignifica a Vida de quem se aproxima dela, frente a frente; como uma lição de Vida mais potente.

     E quando voce cita Gibran, me lembro de uma frase sua que adoro. Como nos falou Gibran Khalil Gibran em um de seus livros " Temporais" : " Faço votos para que aprendas a amar as tempestades, ao em vez de fugir delas".

     UM GRANDE ABRAÇO,

     Shirley Monteiro.

Shirley,

Como voce bem disse: A morte é um  dos ciclos. Todo ser que respira , inspira.

Mas diante de certa ou incertas mortes, nos tornamos, às vezes irracionais. E é por esta razão que digo que ela por si só é desumana. Bem sei, que muitas mortes poderiam e podem ser evitadas, precocemente, se não fosse a violencia de várias formas,como continuam acontecendo. E fato de me sentir impotente diante dela é, por que percebo que pessoas que poderiam lutar pra evit´-las, em grande proporção, se acovardam diante da ameaça de não alcançar êxito e ter o seu posto rebaixado. Se esquecem que Vit´rias se conquista, não se compra.

Obrigada por ter lido e comentado meu texto e  com muito equilíbrio,  ao contrario de mim pois, me encontro bastante sensível pra abordar este tema.

Um grande e afetuoso abraço

Nercinda

Responder

Querida Nercinda,

Histórias como a sua me impulsionam a ouvir mais, enxergar melhor, retirar as vendas que a academia muitas vezes insiste em colocar nos nossos olhos.

Ontem fui visitar uma amiga, idosa, usuária da unidade do Panatis. Seu companheiro, também idoso, acamado há seis anos, morreu ontem no Hospital. Quando cheguei, ela estava arrumando o quarto. Inicialmente, fiquei receosa, não sabia o que ia dizer, mas sabia que não poderia deixá-la sozinha. Apenas sentei e ouvi-a dizer que não sabia o que fazer de sua vida já que nos últimos anos "viveu para cuidar dele".

Fiquei a observar o modo terno como ela dobrava cada peça de roupa, como acariciava o lado da cama onde ele dormia, como tocava a cadeira na qual ele sentava… senti muita dor; ouvi-a falar sobre ele, sobre o seu sempre presente bom humor, choramos juntas e nos abraçamos…na saída, ela disse: vamos nos preparando, Jacqueline, todos nós vamos um dia!

É isso, Nercinda…É assim que vou tentando enfrentar as perdas e as dores – sem tentar fugir delas.

Um grande abraço, minha querida!

Jacqueline