(Comentário sobre as aulas 11 e 12 do “Método para rir até dos mais encontros” da Escola Nômade de Filosofia de Luis Fuganti.)
A propriedade pública, privada e intelectual tem valor e substância no exílio a que nos forçamos. Abandonamos o acontecimento em nome da negação do comum. As formas de propriedade, mesmo a ideia de propriedade coletiva, pressupõe uma insuficiência, uma escassez dos elementos da realidade.
Para que seja possível tomar partes da realidade como propriedade é necessário separar o bem do mal, e deduzir que o mal é comum e o bem extraordinário. E assim, deslocar toda a pluralidade do real, toda a potência dos encontros, para um além do mundo, para um reino ideal que não existe.
O dinheiro, na forma de uma moeda símbolo – que reduz a polifonia infinita de signos de valor, que embarga a produção de valor na submissão de tudo ao capital monetário – termina por esvaziar totalmente a extensão do presente em nome de uma busca pelo extraordinário, pela esperança de escape da suposta insuficiência do real em nome da plenitude de um ideal que não existe.
Essa economia da miséria e da insuficiência nos cega para o potencial de criação que o encontro nos entrega a variação infinita do acontecimento.
Congelados nos saturamos de julgamentos e reprodução de valores estéreis. Em vez de acontecer nos imobilizamos na esperança de uma redenção que venha de fora da realidade. Trocamos a força da imanência pela miragem da transcendência.