Dia dos pais-mães e das mães-pais, essas datas especiais de Maio e Agosto poderiam ser também os dias da espécie humana. É curioso como pensamos a economia sem considerar a fonte primeira de toda produção de subsistência e valor.
Paternar e maternar têm uma relação simultânea com a existência do indivíduo e da espécie. Não é possível ser humano, não é possível sobreviver, sem ter sido cuidado.
Mas podem existir aqueles que, mal ou bem protegidos e amados, não conseguem retribuir. Vivem num abandono trágico a si mesmos.
Somente esses consomem mais da vida do que a ela devolvem. Nesse sentido é que sinto que a vida dá mais do que tira, seja de cada ser vivo ou do universo inanimado em que ela, a vida, se aninhou.
Ao pensarmos o trabalho separado da fonte de sua energia, criamos uma economia que não contabiliza o maternar e o paternar, a produção coletiva da vida da espécie. Em grego oikonomia significa o cuidado com a habitação humana em meio ao silêncio absoluto da paisagem sem a linguagem.
Ao dar sentido aos eventos da paisagem e da vida, podemos ver o encadeamento entre nossos artefatos e nossas existências. Há uma relação de necessidade entre o que produzimos e nossa existência.
Assim, deliberadamente sem considerar o valor primordial das mães, muito mais do que os pais, nossa riqueza jaz sobre o peso de um equivalente universal sustentado na imaterialidade de uma negação da vida. O dinheiro, a moeda, o capital, essas abstrações às quais devotamos nossa existência individual e comum é, pela oclusão do trabalho amoroso de prover e cuidar, uma perversão da vida.
A morte tirou meu pai da vida. Mas não pode tirá-lo de mim. Por isso não estamos enclausurados em nós mesmos. Trazemos a ancestralidade imemorial da vida na lembrança que temos de nossos pais. Seguiremos existindo na memória de nossos filhos. Sejam eles ligados a nossa herança, legado genético ou ao amor e a afinidade afetiva.
Pai e mãe, primeiramente, devem adotar os filhos que geram. Mas não são menos pais ou mães, quando adotam a quem encontram ao longo da vida.
Nesse princípio reside a riqueza material e espiritual de cada espécie e da vida. Do mesmo modo, toda miséria e negação da vida (da espécie que chegou a saber que sabe e a sentir que sente) tem origem na negação desse princípio.
Feliz dia dos pais a todos que sabem, sendo homens, espelhar o amor e o cuidado que as mães nos ensinam e que a economia ignora.