Todos vivemos de acordo com crenças mais ou menos compartilhadas. Existem os fatos que a ciência observa através da constante investigação de teorias. Nunca na ciência, portanto, há uma verdade definitiva.
A totalidade dos fatos está além de nossa capacidade de percepção. Estudá-los é o que nos faz desenvolver hipóteses e tecnologias. Com nossas indagações, elevamos a dimensão da realidade percebida para além do aparente. O universo se expande do observado até o cognoscível e, talvez, necessariamente, além do imaginável.
As pessoas, nestes momentos de profundas mudanças, querem ter direito a suas crenças imemoriais. O equívoco delas consiste em não perceber que sempre tiveram e terão esse direito. Inventar crenças é parte da criatividade humana.
Como escrito acima, mesmo a ciência emerge de pressupostos filosóficos e teorias que possam suportar o rigor dos cálculos matemáticos e da lógica. Sem crenças, portanto, a própria ciência não teria surgido. A diversidade e o movimento constante das crenças estão na gênese da investigação científica.
Assim, toda e qualquer crença é legítima. Elas dão sentido e significado à existência de todos nós.
Algumas formas de fé são afirmativas, potencializam e tornam a existência mais alegre. A maioria das crenças são negativas e trazem a suspeita e o rebaixamento que a maioria imagina ser uma característica da existência. Essa é a razão de muitos acreditarem num pecado original.
Mas o fato é que a vida não é boa nem má. Ela se nutre da energia dos encontros, e persiste desse modo. O que valorizamos, o que tratamos como sendo mais importante é o que define se nossa vida consiste em ressentimento e lamúria ou afirmação e criação.
No mundo atual, seguir os valores implicados na maioria dos credos significa diminuir e rebaixar a vida. Assim, cada um sente a amargura que cultiva. Todos sentimos dor, desconforto e luto. O que fazemos com isso, a partir de crer ou suspeitar da vida é que nos faz tristes ou alegres.
Então, acreditar que aqueles que estão agindo errado, de acordo com antigos textos divinos, irão para o inferno, seja seu vizinho, sua mãe ou seu filho, e que você existirá em êxtase eterno no paraíso celeste, é seu mais sagrado direito.
Do mesmo modo, se as pessoas que você acredita que Deus condenará ao inferno estiverem vivendo de acordo com outra crença, elas vivem em seu pleno direito.
Teu mundo de sentidos e significados é teu. Se você não pretende nem quer que as leis forcem os outros a viver de acordo com as tuas crenças, está tudo bem. Você faz parte de uma pequena comunidade de fé compartilhada. Seus pensamentos são livres. Suas atitudes é que podem ser abjetas e causar dano.
A tragédia das pessoas que acham que vivem na terra plana, no mundo das vacinas que causam doenças, das mulheres que devem seguir a autoridade masculina e no mundo onde a homossexualidade é uma doença é fazerem de tudo para destruir os outros modos de vida.
O mais grave nesse tipo de crença é o fato de buscarem a interdição do aspecto mais afirmativo e necessário para a sobrevivência da humanidade e de alguma forma de civilização: a própria potência de criar valores e modos de vida.
Você pode acreditar no apocalipse. Mas não pode participar de um esforço coletivo que nega às mudanças climáticas apenas para provar que sua crença é mais que uma crença. Se você tem certeza, não há nada a acrescentar. Um dia teu deus destruirá tudo e levará com eles os escolhidos. Cuidar desse planeta faz parte de um compromisso de afirmar a existência e a vida para além das crenças pessoais de cada um.
A lei da gravidade, nas condições de existência observáveis, não se torna mais ou menos consistente conforme o número de pessoas que acreditam nela.
Se você “sabe” que céu e inferno existem, e quer ir para o céu, aja de acordo. Leve a sua mensagem a quem quiser ouví-la. Respeite quem tem outras crenças. A aprovação de outras mentes não torna os fatos mais sólidos.
Crime é negar em atitudes, palavras e leis outras existências iguais a tua. A tragédia humana é o que fazer com os que tornam seus temores e necessidades, razões suficientes para destruir seus semelhantes.