Há 2017 anos uma criança, filho de refugiados, perseguidos pelo governo, nasceu em algum mês do ano. Sua existência, repleta de muitos mistérios, da concepção até por volta de seus 30 anos, foi narrada desde décadas, até séculos mais tarde, segundo os mais diversos tipos de inspiração, interesses políticos e de acordo com uma controversa e recente tradição – que ao tornar-se canônica – perdura em inúmeras versões e milhares de interpretações até nosso tempo.
Sua existência adulta termina de maneira trágica, no entanto, plena e coerente com um tipo de interpretação de quase tudo o que fez e disse em sua curta vida pública.
Depois de sua morte, a narrativa de transcendência que se seguiu estabeleceu a força de um sentido que levou seus seguidores a dominarem a sede do império, cujos representantes estiveram diretamente envolvidos em sua tortura e execução.
O fato é que o que o nascimento dessa criança, ajustado posteriormente, para coincidir com a tradição das festas pagãs do império que ruiu, frente a fé que surgiu após sua crucificação, tem um significado que toca bilhões de seres humanos. O tempo antes e depois é demarcado pela memória fugaz e intensa de sua estadia nesse mundo.
O significado das celebrações de fim de ano é ainda muito mais antigo. É uma herança deixada por pequenas tribos em que pessoas encontraram na noite estrelada um significado para o eterno retorno. Marcado pelo ritmo reiterado da dança das constelações nos caminhos do sol, encontramos no tempo, além do desaparecimento e eterno esquecimento, uma forma perene para o retorno.
Esse tempo primordial é diferente do tempo ocidental moderno. Nos angustiamos com esse fluxo em que o presente existe para desaparecer e dar lugar a um futuro incerto.
As celebrações natalinas nos lembram que o presente também reelabora o passado para que ele jamais desapareça completamente no futuro. O Natal é uma bricolagem milenar e inconsciente de reminiscências ancestrais.
É isso que chamamos de persistir, avançar, lutando contra todas as forças que tendem a aniquilação e ao desaparecimento.
Feliz Natal!
Marco Antonio Pires de Oliveira
Por Emilia Alves de Sousa
Belo texto Marcos!
Que o Natal consolide a esperança de um novo tempo que existe em cada um de nós!
Feliz Natal pra você e família!
Abraços!
Emília