O papel da enfermagem na construção de uma sociedade sem manicômios

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Adriano de Jesus, Cátia dos Santos Custódio, Cinthia Costa Casotti, Daiane Freitas Zeppenfeld, Hortência Pereira da Silva Izaias José Rodrigues Cruz, Jéssica do Rosário Reis, Karen Paola Quevedo Gomez

A saúde mental no Brasil, vem passando por mudanças significativas desde o final da década de 70, com movimentos que visam desmistificar a loucura, conquistar novos espaços que venham a substituir os manicômios e também, denunciar a naturalização do asilamento, medicalização e patologização.

Um passo importante neste sentido, foi dado em 1987, durante o II Congresso Nacional de Trabalhadores em saúde mental, na cidade de Bauru – SP, onde foi definida a data de 18 de maio como o dia nacional da luta Antimanicomial.

A partir daí, o movimento Antimanicomial, que teve como lema, uma sociedade sem manicômios, passou a retratar uma forte crítica à institucionalização da psiquiatria.

Desde então os hospitais conveniados ao SUS, intentaram desenvolver ações humanísticas com intuito de tornar o ambiente hospitalar mais cativante com melhorias na aparência física, nas atividades lúdicas, de lazer e arte, entretenimento, visita livre, dietas personalizadas, para os pacientes assim como para os trabalhadores de saúde.

O processo de trabalho de enfermagem tem acompanhado essa reformulação. O trabalho de enfermagem em saúde mental está saindo de uma prática de cuidado hospitalar que tendia a contenção do comportamento dos “doentes mentais” e a inclusão de princípios novos, uma prática interdisciplinar, aberta às eventualidades dos sujeitos envolvidos neste contexto.

O papel do enfermeiro hoje é de agente terapêutico, objetivando o compromisso com a qualidade de vida do indivíduo em sofrimento psíquico. Para tanto, o enfermeiro necessita de preparo e qualificação para atuar nesses modelos de atenção, atingindo potencial para assumir novas tarefas e adequando-se às mudanças provenientes da atual política de saúde mental vigente no país

A principal importância da humanização para a enfermagem é possibilitar o resgate da subjetividade do indivíduo, aprofundando cada vez mais o diálogo enfermeira-paciente, exercendo uma assistência individual, pois cada pessoa tem suas particularidades e necessidades. Neste processo, é imprescindível, que os usuários dos serviços de saúde possam usufruir de seus direitos, e participem ativamente e de forma autônoma de decisões e recursos de humanização em saúde, ajudando assim a coletividade e os profissionais de saúde.

O cuidado de enfermagem deve ser desenvolvido respeitando os princípios da dignidade, interação com o outro, isenção de preconceitos, crendices pessoais e valores, com isso a enfermagem tem procurado aproximar-se das tecnologias leves para ofertar um cuidado humanizado em suas ações mais complexas, uma vez que as tecnologias duras são importantes, atuando no tratamento da dor e auxiliando nos diagnósticos, porém são limitadas no entendimento da essência humana. Desta forma, cada indivíduo não deve ser tratado pela equipe de enfermagem como se fosse mais um caso clínico, e sim, ser acolhido de maneira ética, respeitosa, sendo ouvido e tratado de forma digna.

Atualmente, aliado à prática do cuidado humanizado existem os serviços extra-hospitalares como, serviços especializados, ambulatório de saúde mental, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), hospitais dia, serviços de urgências e emergências psiquiátricas e serviços de residências terapêuticas. Em todos esses ambientes, a enfermagem tem a oportunidade de protagonizar a assistência humanizada em saúde mental, promovendo um processo educativo permanente, sempre contando com o apoio da equipe multidisciplinar.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Coordenação de Saúde da Comunidade. Reforma psiquiátrica. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/ Relatorio15_anos_Caracas.pdf.

CORRÊA, Samite Araújo de Souza. A Importância do Enfermeiro para Pacientes Mentais no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS). Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 2, Vol. 13. pp 395-416 janeiro de 2017. ISSN: 2448-0959

DINIZ D. A custódia e o tratamento psiquiátrico no Brasil. Brasília: UnB; 2013.

HIRDES, A. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão. Ciência & Saúde Coletiva. Print version ISSN 1413-8123. On-line version ISSN 1678-4561. Ciênc. saúde coletiva vol.14 no.1 Rio de Janeiro Jan./Feb. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?