Num mundo cada vez mais doente, meu ofício é cuidar de pessoas adoecidas. Para que suas vidas não percam o sentido, busco aliviar suas dores, desesperos, feridas e por fim, do corpo sem vida.
Esse ano está sendo devastador para todas as mínimas expectativas de fronteiras. Com a saúde e a doença não é diferente. Se o sentido da existência se apresenta como a questão central, nosso maior medo é que a resposta possível possa ser a falta de sentido absoluto.
O mesmo vale para ensinar e aprender, a minha outra profissão. Temos medo das respostas a que a investigação possa nos trazer. Alguém disse que o tempo, como estrutura analítica, simplesmente implodiu.
Se nossa situação atual implica na implosão do processo de percepção do tempo, a própria possibilidade de passar por uma experiência está em questão.
Nós professores estamos nos tornando mestres da dúvida e da incerteza como a forma de conhecimento possível. Então, em lugar de temer as respostas, podemos nos concentrar nas perguntas que cada resposta produz. De certo modo isso implica numa adesão ao tempo como espaço de produção de sentido.
Assim a crença e a superstição – os analgésicos tóxicos para o desespero da ignorância – podem dar lugar ao remédio do saber. No entanto, apenas se assumirmos que o saber emerge da formulação precisa das dúvidas.
O conhecimento resulta de um percurso orientado pelo ceticismo metodológico. De uma resposta, um novo ignorado emerge, mais denso e mais profundo. Seu rastro é uma técnica mais apurada. Esse é o caminho da vida. Assim é o curso biológico das espécies.
Mas se nossa experiência do tempo realmente implodiu durante a década passada, estamos presos num círculo de giz.
A superstição e a fé trouxeram de volta antigas respostas. Ao recuarem frente às magníficas dúvidas que Einstein e Heisenberg apresentaram a humanidade na teoria da relatividade e física quântica, os conservadores quebraram o curso biológico da cognição.
Estamos involuindo. O tempo implodiu como as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001.