Os laços que criamos no CAPS ROSTAN SILVESTRE em Maceió-AL

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Estudantes, Elton, Vitória e Zuíla Caroline, do Internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas e que se trata de uma postagem relatando aprendizados obtidos durante o estágio nos CAPS, sob responsabilidade do prof. Sérgio Aragaki.

O rodízio de psiquiatria me proporcionou alguns momentos em que pude vivenciar a rotina dentro de um CAPS bem como a relação multiprofissional entre usuário-profissionais e profissionais-profissionais. Apesar de não ter tido a oportunidade de acompanhar todas as atividades ofertadas no CAPS Rostan Silvestre, pude participar de grupos terapêuticos, aulas de meditação, consultas médicas, discussões de casos e aulas de zumba.

Na primeira semana, tive a oportunidade de conhecer a estrutura do local, conversar com os profissionais da terapia ocupacional e suas estagiárias, farmacêutica, técnicos, assistente social e participar de um grupo terapêutico cuja coordenadora é a enfermeira Janaína Amorim. Nesse dia, pude observar como é a rotina deles a partir da hora que chegam ao CAPS até o carro os levá-los para casa incluindo horários de alimentação, descanso e cronograma das atividades. Por outro lado, pude experienciar o lado burocrático relacionado desde a solicitação do prontuário até o preenchimento deste tanto com a evolução como com o Registro das Ações Ambulatoriais de Saúde (RAAS).

Na segunda semana, tive a oportunidade junto da Enfermeira Janaína, de ser a facilitadora do grupo terapêutico  que ocorre às quintas-feiras pela manhã. Conversamos durante a semana onde pude montar um plano de ação com ela sobre as atividades que gostaria de fazer com eles. O título dado foi o mesmo deste post, tendo em vista que gostaria de trabalhar valores como a amizade, relações sociais e o afeto entre eles.

A primeira dinâmica foi pensada para ser um aquecimento chamada ” meu vizinho”. Nela, o facilitador começa o jogo dizendo: “O meu vizinho é…” ( aqui diz uma qualidade). Conforme a letra que inicia a palavra dita, todos os outros jogadores devem dizer palavras que se iniciem com a mesma letra. Não podem repetir palavras. Foi muito interessante pois cada um buscava uma característica da própria pessoa do lado e não, um adjetivo qualquer.

A segunda atividade buscava estimular a atenção e interação dos colegas com o intuito de desenvolver a expressão oral, poder de síntese e raciocínio. A dinâmica se chamava “Jornal falado” e a facilitadora começa uma história a qual deverá ser continuada pelo participante seguinte e sucessivamente até que todos tenham participado. Fizemos quatro rodadas e eles foram muito criativos nas histórias, o que nos proporcionou bastante risadas.

A terceira e última atividade focava no fortalecimento do vínculo entre eles e demonstrar a importância que temos na vida um dos outros. A ideia era realizar um sorteio com os nomes dos usuários presentes. Em seguida, cada participante deveria anotar no cartão, qualidades dessa pessoa sorteada ou o que mais gosta dela ou o que aprendeu com ela no tempo de convívio. Após finalização, nós, facilitadoras, recolhemos os papéis e lemos um por um, fazendo com que eles tentassem adivinhar de quem se tratava. Tivemos momentos de surpresas quando líamos os cartões e um dos usuários nem imaginava que outra pessoa o considerava inteligente e esforçado.

Particularmente, fiquei muito feliz com o andamento da atividade e com o quanto eles se envolveram mesmo eu não sendo uma pessoa do convívio deles. Como forma de agradecer o carinho, levei uma caixa de chocolate para finalizar o grupo terapêutico daquele dia. Guardo boas recordações dos dias de CAPS. A integração entre a medicina e métodos desmedicalizantes, também foi de grande importância poder observar na prática, para ver como há grande aceitação por parte do usuários. Técnicas como auriculoacupuntura , já usada há séculos na medicina tradicional chinesa  muito utilizada tem grande procura por usuários.  Usada para acalmar os usuários , tem efeito satisfatório relatado por quem recebe essa técnica.  A oficina de artes, utiliza desenhos para treinar a concentração e também causar um momento de descontração entre usuários e terapeutas , é o momento de interagir e socializar.  No CAPS podemos observar a sintonia entre a equipe interdisciplinar, onde cada integrante tem sua técnica respeitada e respeita a técnica de todos. Sempre a troca de ideias e reuniões para ajustes da equipe , tudo em benefício de quem usufrui do espaço. Mas acho , que de tudo que foi visto nessas semanas , o acolhimento , momento em que o CAPS recebe o paciente psiquiátrico para torná-lo usuário, foi o momento de maior aprendizado,  vendo como as pessoas chegam vulneráveis,  precisando de ajuda,é como os profissionais que ali estão , os recebem e os orientam, com tratamento humanizado, de forma realmente acolhedora , tornou a experiência desses dias ainda mais rica e construtiva para a formação de nos, médicos generalistas, Assim , pudemos observar que é um serviço fundamental no sistema de saúde,  que pode e deve ser melhorado em termos de estrutura , de treinamento de equipe , ampliação e melhoria de serviços,  mas que já nesse modelo, cumpre seu papel e ao que se propõe quanto sistema complementar de tratamento em psiquiatria.