Papel do Estudante de Medicina na Linha de Cuidados sobre o Diabetes em uma ESF do interior de SP.

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Debates, Relato de experiências
Lucas Kenji Maehara 23/04/2023

Em abril de 2023, juntamente com meus colegas de turma – da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) – e com orientação da preceptora Ronivânia do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (PAPP/FAMEPP), realizamos uma abordagem na recepção da ESFs Vila Marcondes, com breve orientação aos usuários do SUS que aguardavam por atendimento, na recepção da Unidade de Saúde. Nesta abordagem, orientamos as pessoas presentes sobre as principais “situações problemas” que constavam nos seus prontuários, do mês abril de dois mil e vinte e três. Os principais problemas enfrentados pela população local eram: hipertensão, diabetes e dengue, lembrando que o mês de abril é um período de calor e chuvas intensas nesta região, na qual há proliferação do vetor transmissor da dengue.

Os acadêmicos se dividiram em duplas, ficando responsáveis por realizarem uma ação de Educação em Saúde relacionada à diabetes. Como a preceptora havia nos informado que faria supervisão da nossa apresentação, ficamos  bastante apreensivos, pois apesar de termos estudado previamente sobre os temas, não sabíamos o quanto deveríamos nos aprofundar no assunto e se conseguiríamos passar a mensagem esperada para a comunidade. Como o nosso tema foi o último a ser debatido, conseguimos ficar mais calmos e termos uma noção sobre o quanto deveríamos repartir nossos conhecimentos com as pessoas presentes. Contamos com o apoio de nossos colegas para que as informações expressas fossem emitidas da forma mais clara possível.

Ao presenciar a apresentação dos demais membros do grupo e auxiliá-los com breves falas, também obtivemos maior tranquilidade para expressar os conhecimentos para a comunidade que nos observava atentamente. Os acadêmicos puderam, na oportunidade, elucidar brevemente os conceitos básicos sobre o diabetes. Explicaram como se trata a doença, quais formas podem ser apresentadas, as principais medidas para evitar seu aparecimento, os principais sintomas que podem ocorrer em sua forma inicial, além de como o diagnóstico deve ser feito.

Neste momento abrimos para as possíveis perguntas dos presentes, havendo interação com o grupo de acadêmicos. Sentimos que os pacientes expressaram ter cuidados com a alimentação para não desenvolver a doença. Os usuários do SUS presentes consideram importante a prática da atividade física, alimentação saudável, cuidados de higiene como ter seu próprio material de unha, dentre outras medidas essenciais para a prevenção da diabetes. Também referiram os mesmos cuidados para os usuários SUS que já apresentavam a doença em desenvolvimento.

Com base na experiência vivenciada, sentimos que o maior medo relatado pelas pessoas da comunidade, em relação a diabetes, era de passar a fazer uso diário de insulina, além das possíveis amputações de membros. Observamos uma grande importância dada pela comunidade ligada ao território da ESF, a este momento de informação e educação, pela resposta positiva e grande interesse da comunidade presente.

Observamos, neste dia, alguns resultados positivos, como a integração do grupo de estudantes, percebida desde os momentos de planejamento da ação, divisões de tarefas e habilidade em responder às dúvidas apresentadas. Outra situação positiva foi na percepção da troca de saberes entre os integrantes: acadêmicos, professores e usuários do SUS, demonstrando a importância de se trabalhar em equipe, dividindo experiências e novos conhecimentos adquiridos.

Conscientes do empenho dos Trabalhadores da Saúde da ESF para evitar ou minimizar as complicações biopsicossociais decorrentes do Diabetes, esperamos que as ações de Promoção e Educação em Saúde para os usuários do SUS possam contribuir, de maneira simples, mas robusta, para a Linha de Cuidados para essa doença.

Essa experiência, além de nos colocar diante da realidade de Saúde enfrentada pela comunidade, fomentou o interesse pela pesquisa e produção de trabalhos científicos, mantendo ativo o papel da Universidade do Oeste Paulista na cidade de Presidente Prudente-SP, formando futuros médicos agindo de maneira crítica, a partir da Vigilância em Saúde, de acordo com a Epidemiologia local. Conseguimos agregar usuários do SUS para a Educação em Saúde, conscientizando-os sobre o Diabetes, no território ligado à ESFs da Vila Marcondes, em Presidente Prudente, no interior de SP.

Os participantes consideraram como positiva a ação relacionada à Criação de Ambientes Saudáveis, realizada na área de abrangência da ESF, localizada na Rede Regionalizada de Atenção à Saúde (RRAS) da Alta Sorocabana.

Referências:

NAJJAR, E. C. A; NAJJAR; J. A; FERREIRA, E. A. P; ALBUQUERQUE, L. C. Análise dos pés de pacientes diabéticos atendidos em unidade de saúde. Dissertação (Doutorado em Teoria e Pesquisa de Comportamento) – Universidade do Estado do Pará. Belém. 2009.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Definition, Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus and its Complications. Report of a WHO Consultation. Part 1: Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. 1999.

CAIAFA, J.S, et al. Atenção Integral ao paciente portador de pé diabético. J Vasc Bras, Vol. 10, no 4, Suplemento 2, 2011.

SOUZA, M.A. Autocuidado Na Prevenção De Lesões Nos Pés: Conhecimento E Prática De Pacientes Diabéticos. João Pessoa, 2008. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008.

Daiane Galera Valejo; Lucas Kenji Maehara, estudantes do 4º termo de Medicina da Universidade do Oeste Paulista

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3 Comentários

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Por Alex Wander Nenartavis

Parabéns ao Acadêmico Lucas Kenji, pelo belo relato.
Percebemos que as ações de Educação em Saúde, realizadas no território ligado à ESF, beneficiam os sujeitos envolvidos nas atividades de acolhimento, promoção, proteção, recuperação à Saúde. Esta ação de Promoção à Saúde, no cuidado com as pessoas com Diabetes incentiva a cidadania, a autonomia e a responsabilidade social. Também impulsiona a construção e consolidação do Sistema Único de Saúde. Congratulações !

Por deboraligieri

Caro Lucas.

Que riqueza de relato! Parabenizo você e seus colegas, assim como os professores da UNOESTE, por esta ação de educação em diabetes tão necessária e importante para a prevenção da doença e para o autocuidado de quem já é diabético.

Tenho diabetes tipo 1 há 37 anos, e sou uma ativista nesta área. Converso com muitos companheiros portadores ou familiares de portadores de diabetes, e a educação para a prevenção e para o autocuidado ainda é negligenciada ou simplificada em muitos serviços. São inúmeros os exemplos de situações em que as pessoas recebem o diagnóstico e os medicamentos e insumos para o autocuidado sem qualquer orientação, e sem a possibilidade de escuta para suas dúvidas e também aprendizados com o convívio com a doença, que poderiam possibilitar a construção do cuidado compartilhado, ao invés de reduzí-lo a uma adesão a regras pré-estabelecidas e generalizadas que desconsideram limitações, desejos e temores dos pacientes e usuários. Nesse sentido, é bastante animador ver que vocês estão compreendendo desde a formação a importância do trabalho colaborativo entre todos os envolvidos no cuidado da pessoa com diabetes (incluindo o próprio paciente), e percebendo a partir da experiência que nós também temos saberes e podemos contribuir com o trabalho dos profissionais que nos apoiam no autocuidado.

A insulina, especialmente para diabéticos tipo 2, ainda causa muito medo, pois muitos entendem que este é o “começo do fim”, quando a insulina é um medicamento que salva vidas (esta é uma expressão bastante usada pela galera DM1). Muitas pessoas também tem medo de injeções, o que muitas vezes é desvalorizado nos encontros entre pacientes e profissionais. Vocês podem aproveitar essa percepção para, numa próxima ação, levar informações e relatos positivos sobre o uso da insulina, buscando ensinar e incentivar o desenvolvimento de estratégias para que o ato da aplicação da insulina não represente uma tortura para os pacientes, ou uma sentença de morte.

Sobre o planejamento das conversas, compartilho uma experiência muito bonita que conheci num Congresso de Diabetes há alguns anos. Antes de elencar os temas para a conversa de educação em diabetes, a equipe de atendimento de um Hospital do Recife fez uma primeira conversa com os pacientes apenas para escutá-los e tentar entender melhor quais os eram os assuntos mais importantes para eles. A partir dessa conversa inicial, eles elaboraram o cronograma dos encontros seguintes trazendo os temas que os próprios pacientes haviam enunciado como relevantes para eles. Uma das dificuldades relatadas por um dos pacientes era alimentação “adequada”, considerando que, em função do alto custo dos alimentos saudáveis in natura, ele só teria dinheiro para comprar frutas até a terceira semana do mês. Essas dificuldades atreladas aos determinantes sociais da saúde são praticamente esquecidas quando falamos do cuidado em diabetes. Escutar os pacientes e entender suas limitações, desejos e temores é um método respeitoso e bastante eficaz, pois traz à tona o que é realmente necessário para os pacientes em diálogo com a equipe, e não o que as diretrizes e artigos científicos consideram como relevante, e que muitas vezes estão distantes das nossas vivências.

Tenho uma pesquisa de mestrado sobre o ciberativismo em diabetes que, em um dos seus pontos, aborda como os pacientes tratam do cuidado em seus relatos no facebook. Deixo aqui o link do post onde trago esses resultados, caso queiram conhecer: https://redehumanizasus.net/ciberativismo-em-diabetes-lutamos-por-vidas-nao-por-likes-nas-redes-sociais-e-na-academia/. Uma questão interessante desses relatos é que eles mostram que os pacientes bem controlados não são aqueles com uma excelente adesão às regras do cuidado, mas os que desenvolvem uma relação de companheirismo com os profissionais e com a equipe de apoio no seu autocuidado. E me parece ser esse o caminho a ser trilhado para cuidar das pessoas com diabetes, e que também vejo no seu relato. São profissionais assim que queremos para cuidar de nós!

Abraços,

Débora