O mundo do trabalho no qual nascemos está morrendo. Não há mais diferença entre viver e gerar renda. A hora trabalho, é cada vez menos importante na formação do valor.
Mover a economia e ajudar os ricos a ficarem mais ricos ou dividir a riqueza são escolhas entre dois modos vida incompatíveis. De um lado afirmar e fortalecer a vida. De outro o capitalismo que move as ações humanas num único sentido: a reprodução cada vez maior, mais rápida e mais autônoma do capital.
Não há na lógica capitalista o interesse no bem comum. O ganho de qualidade de vida, durante o século XX, se deve em grande parte ao desenvolvimento técnico e científico. Também é um efeito colateral da necessidade de mão de obra assalariada no modo de produção capitalista.
No entanto, a aceleração do desenvolvimento científico e a hegemonia do capital financeiro estão mudando a forma da reprodução do capital.
Quando seu filho se diverte na internet, você gera riqueza para as operadoras de sinal digital. Ele trabalha para aperfeiçoar o jogo que joga e cria mais riqueza para o dono da empresa que vende os jogos. Quando um servidor público recebe salário e gasta, gera renda para quem vende bens ou serviços para ele.
A economia teria entrado em colapso se o governo não tivesse distribuído dinheiro para as pessoas cuidarem da própria saúde durante a pandemia de Covid-19. Até o surgimento do coronavírus parecia que o dinheiro estava escasso. Mas diante do colapso da economia os recursos apareceram. Trilhões para os banqueiros e 600 reais por mês de ajuda emergencial para os pobres.
Isso revelou para o senso comum uma obviedade que estava oculta. Lentamente o ser humano vai se libertar da maior parte do trabalho. Esse é um processo iniciado com a invenção da agricultura há cerca de 12 mil anos.
Desde que grande parte dos seres humanos deixaram de ser caçadores coletores, o trabalho e o ócio, a subsistência e o laser se separaram e deram origem a diversos modos de produção. Mas foi no capitalismo industrial que o trabalho submeteu a existência de modo mais significativo e abrangente.
Agora isso está mudando rapidamente. O próprio ato de existir – buscando o bem estar pessoal e de sua família – será o grande desafio para bilhões de pessoas que deixarão de ter ocupações na economia de produção.
Se a riqueza permanecer na mão de tão poucos, a existência da maioria vai perder o sentido e até mesmo a serventia.
Mesmo que todos recebam alimentação gratuita, produzida numa agricultura cada vez mais mecanizada, o desafio do que fazer da vida estará colocado para todos nós.
O desemprego não decorre do fato de que falta dinheiro para pagar salários. A produção está aumentando e os empregos estão diminuindo.
O problema é aceitarmos que nos libertamos da necessidade de trabalhar 40 horas semanais. Precisamos da distribuição da riqueza produzida e acumulada – com e sem o trabalho tradicional. Assim será possível escolher o que fazer para termos uma existência gratificante e significativa.
O lugar da filosofia, do pensamento religioso e do conhecimento científico precisa ser o de mobilizar o senso comum para a imensa tarefa de reinventar o sentido da existência.