Pesquisador da Fiocruz assina artigo sobre saúde das mulheres trans e travestis
Foto: Fernando Brazão (Agência Brasil) | Texto: Daniel Lyra-Queiroz – Abrasco Divulgação (com Assessoria de Comunicação Icict/Fiocruz)
Cinquenta e três por cento (698) de 1.317 mulheres trans e travestis entrevistadas relatam ter sofrido algum tipo de violência sexual e, entre as vítimas, 64,4% (419) sofreram esse tipo de violência mais de uma vez. Além dos abusos, esse grupo é vítima de preconceito e tem dificuldade de acessar os serviços de saúde, problema que leva 72% das mulheres trans e travestis que utilizam hormônio a fazer isso sem prescrição médica. Esses são alguns resultados das pesquisas publicadas no suplemento especial da Revista Brasileira de Epidemiologia (Epidemio), uma publicação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), sobre a saúde de mulheres trans e travestis extraídos do “Estudo TransOdara: o desafio de integrar métodos, contextos e procedimentos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil”.
A edição conta, no total, com 13 artigos científicos inéditos, que estão disponíveis para leitura em Acesso Aberto (Open Access) na plataforma SciELO. A edição especial da Epidemio foi pensada justamente para dar visibilidade, com estudos científicos, aos problemas que afetam essa população e, assim, orientar políticas e chamar a atenção das autoridades de saúde. Afinal, por ser marginalizado e carecer de políticas públicas, esse grupo, em situação de vulnerabilidade social, sofre com as mais diversas formas de violência, preconceito e risco ampliado para hepatites e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Os pesquisadores Maria Amélia de Sousa Mascena Veras, Inês Dourado, Francisco Inácio Bastos (pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde, do Icict/Fiocruz) e Thiago Félix Pinheiro, que organizaram a edição especial, destacam, no editorial, a importância da ciência ser utilizada para promover a justiça social: “Fazer pesquisa com a população trans, na perspectiva da justiça social e do direito universal à saúde , convoca à interlocução, com suas questões e reivindicações, bem como à efetivação dos resultados em intervenções concretas capazes de proporcionar avanços e respostas”, afirmam.
O estudo multicêntrico, transversal, realizado em cinco capitais das principais regiões brasileiras entre dezembro de 2019 e julho de 2021.
A publicação pode ser acessada aqui ou pelo link: https://tinyurl.com/epidemio-estudo-transodara
Estudo TransOdara: o desafio de integrar métodos, contextos e procedimentos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil
Objetivo: As infecções sexualmente transmissíveis (IST) afetam desproporcionalmente as mulheres trans e travestis (MTT), que muitas vezes não têm acesso a cuidados de saúde devido ao estigma e à discriminação. Descrevemos a abordagem e a metodologia de um estudo que investigou a prevalência de sífilis, HIV, hepatite A, B e C, Neisseria gonorrhoeae (NG), Chlamydia trachomatis (CT) e papilomavírus humano (HPV) entre as MTT, bem como seu conhecimento e percepção sobre a sífilis, para melhor as políticas para redução de IST nessa população vulnerável.
Métodos: TransOdara foi um estudo multicêntrico, transversal, realizado em cinco capitais das principais regiões brasileiras entre dezembro de 2019 e julho de 2021. Mulheres autoidentificadas como mulheres trans ou travestis, com idade >18 anos, foram recrutadas usando respondent-driven sampling, após uma fase de pesquisa formativa. Responderam a um questionário conduzido por entrevistadoras. Foi oferecida consulta médica, com exame físico, e solicitou-se que fornecessem amostras de vários locais para detectar as IST citadas. Quando indicado e consentido, foram iniciadas a vacinação e o tratamento.
Resultados: Foram recrutadas 1.317 participantes nos cinco locais de estudo: Campo Grande (n=181, 13,7%), Manaus (n=340, 25,8%), Porto Alegre (n=192, 14,6%), Salvador (n= =201, 15,3%) e São Paulo (n=403, 30,6%). O período de recrutamento variou em cada local em razão de restrições logísticas impostas pela pandemia de COVID-19.
Conclusão: Apesar dos enormes desafios colocados pela ocorrência simultânea da pandemia da Covid-19 e do trabalho de campo dirigido a uma população vulnerabilizada e dispersa, o projeto TransOdara foi eficazmente implementado. As adversidades não impediram que mais de 1.300 mulheres trans e travestis tenham sido entrevistadas e testadas em meio a uma epidemia de tal magnitude que perturbou os serviços de saúde e os projetos de pesquisa no Brasil e no mundo.
LINKS IMPORTANTES:
Revista Epidemio: https://www.scielo.br/j/rbepid/i/2024.v27suppl1/
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco: https://abrasco.org.br/