No útero da mata
No eco do verde
No núcleo da vida
Acima da terra o céu avistava
Abaixo do sol luz irradiava
As noites de lua índio admirava
Índio sorria e na mata nascia
Índio vivia e na terra crescia
Índio corria brincava e dançava
Índio se amava plantava e colhia
Índio caçava pescava e cuidava
Índio cantava era feliz e sabia
Não se achava dono mas tinha tudo
A ambição não lhe dominava
Honestidade do seu ser brotava
Não explorava e não enganava
Não era hipócrita e também não fingia
Não poluía e amando seguia
No útero da mata
No eco do verde
No núcleo da vida
Acima da terra o céu avistava
Abaixo do sol luz irradiava
As noites de lua índio admirava
Mas branco chegou chegando
Pra engabelar nosso povo
Branco foi índio expulsando
Índio arrancado da terra
Nossas tribos branco exterminando
Branco roubou nossa terra
#educadorpoetaelias
#sintesescriativas
#arte #cultura
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Elias,
Linda homenagem a esse povo que é o verdadeiro dono das terras brasis, mas que não é respeitado nos seus direitos básicos.
Basta lembrar que até hoje, nenhum governo fez a Reforma Agrária e demarcações de terras indígenas. Lamentável essa falta de olhar governamental a esse povo pioneiro.
Compartilho aqui essa igualmente bela poesia da poeta Márcia Wayna Kambeba, da etnia Omágua Kambeba, uma militante dos direitos da mulher indígena
Educação Indígena
Ainda pequeno na aldeia
Na vivência com os irmãos,
Plantar macaxeira, tirar lenha,
Comer peixe com pirão,
É ensino, é educação.
Ir pra beira tomar banho,
Pegar cará e mandí,
Ver o sol se esconder
E esperar a lua se vestir,
Se vem cheia é alegria
Coisa boa vem por aí,
E com sua luz toda aldeia,
Vai cantar, dançar, se divertir.
Aprender a colher o tento na mata,
Fazer cocar de miriti,
A juntar as penas que vem das aves,
Segindo as orientações de Waimí.
É da floresta que vem
A palha que a Uka vai cobrir,
Tecer nelas nossas memórias
Na folha de urucarí.
Na aldeia é assim a educação
Que desde séculos aprendi,
Conviver com a natureza
Sem agredir, nem exaurir,
Se hoje no século XXI
Tens a mata e a biodiversidade,
Nesse verde eu cresci
E conheci sua bondade,
Partilhar água e sombra,
Sem ver nisso tanta maldade.
Mas logo veio o “outro”,
E mostrou-me com sua maldade,
A importância da escrita
E vi nela uma necessidade,
Fui estudar na escola do branco
Para entender sua realidade.
Compreendi que a cultura é um rio
Corre manso para os braços do mar,
Assim não existem fronteiras
Para aprender, lutar e caminhar.
Hoje estamos nas Universidades,
Levamos junto nosso lugar,
A construção do conhecimento é uma teia,
Que liga a tua cidade com minha aldeia.
Sendo que minha identidade se constrói
Nas peculiaridades que em mim permeia,
Minha casa na cidade é também a minha aldeia,
Não perdemos nossa essência,
Somos o fino grão de areia!
Amazonidas
Somos filhas da ribanceira
Netas de velhas benzedeiras,
Deusas da mata molhada,
Temos no urucum a pele encarnada,
Lavando roupa no rio, lavadeiras,
No corpo o gigado de carimbozeiras,
Temos a força da onça pintada,
Lutamos pela aldeia amada,
Mas, viver na cidade nao tira o direito de ser,
Nação, ancestralidade, sabedoria, cultura,
Somos filhas de Nhanderú, Senerú, Nhandecy
O Brasil começou bem aqui…
Não nos sentimos aculturadas,
Temos a memória acesa,
E vivemos na certeza de que nossa aldeia
Resistirá sempre ao preconceito do invasor,
Somos a voz que ecoa. Resistência? Sim senhor!
Vale a pena conferir essa entrevista dela no portal do Catraca Livre
https://catracalivre.com.br/cidadania/poeta-indigena-que-luta-pelos-direitos-da-mulher-nas-aldeias/?fbclid=IwAR3mxjj_0RfQMJR08uMJvRUSniwB18tMIIREWKk