Por uma vida não fascista

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Ninguém merece um destino. Os acontecimentos de uma existência estão conectados à eternidade do universo.

Então, não se trata de merecer o que acontece. A questão é como lidar com o que acontece, como oferecer algo ao universo, em troca da existência, seja qual for a sua condição.

Tudo o que nos acontece, e o modo como lidamos com isso, constitui o nosso destino.

Essa é a vida que está acontecendo com a gente. Outra vida não aconteceu conosco. Outra vida, com outros destinos, implica em que nós não existiríamos. Ou que seríamos outras pessoas, aquelas com as outras vidas desejadas ou renegadas por nós.

Nós existimos para essas dores e alegrias desse mundo em que vivemos. O que está acontecendo conosco está ligado ao que está acontecendo com todos os outros. É daí que vem nossa dor e nossa alegria. Essa é a realidade do tempo em que existimos.

Curiosamente, parece que amamos o que desejamos que as pessoas sejam e não o que são. Que amamos a vida que queremos e não a que temos. Mas isso é apenas um erro de linguagem. De fato, basta a ameaça de perdermos a vida que temos e as pessoas que amamos para ver o real lugar das idealizações.

Não obstante, há um melhor para ser feito a respeito de tudo, inclusive sobre a dor e o sofrimento. Eles dão a conexão entre um caminho a ser criado para afirmar a vida e os gestos a serem abandonados em nome da existência.

Portanto, não devemos abandonar ou desistir de pessoas, não é digno da existência negar a vida. O que podemos fazer a partir do mal é criarmos modos de vida não malignos, modos de vida que não rebaixem a existência a qualquer forma de ídolo ou mito. A linguagem e suas narrativas não podem surgir da vida, para destruir a vida. A vida deve sempre se impor, ser afirmada e fortalecida.

E não se trata de uma ou outra vida. Somos parte de uma imensa linhagem de seres que já existiram e estão extintos. Em nossa arrogância estamos exterminando outras formas de vida, colocando nossa própria espécie em perigo.

A humanidade é uma espécie capaz de ver a si mesma e criar valores a partir da consciência de si mesma. Criar valores que negam a vida que temos é cultuar a morte. E o culto à morte é fascista.