Diante da possibilidade da fome endêmica, o impasse sempre esteve na questão da existência ou não de recursos. Nós podemos reduzir o colapso da civilização diante dos efeitos da pandemia de Covid-19. Mas isso depende de como vamos utilizar a economia e suas ferramentas, isto é, como vamos alocar os recursos monetários e tecnológicos.
A forma econômica, expressada no sistema monetário, se apresenta como a omissão dos humanos diante de suas responsabilidades. É a lógica monetária que guia nossas existências e não o contrário. Por isso Marx escreveu sua maior obra com o título de “O Capital” e não “As Classes” ou “Os Trabalhadores. Ele percebeu a autonomização da lógica de reprodução do capital em relação aos desejos e necessidades humanas.
Com a crise global das bolsas de valores isso fica evidente. O sistema capitalista funciona usando os próprios agentes econômicos para servir a reprodução do capital e não às necessidades humanas.
Por isso o neoliberalismo – que vinha guiando a tomada de decisão dos agentes econômicos está em crise. As teorias liberais e ultraliberais perderam sua operacionalidade. O neoliberalismo não fornece as respostas para a questão do que fazer com um sistema econômico e industrial com super capacidade de produção.
Isso é compreensível e absurdo ao mesmo tempo. Temos capacidade de produzir o essencial, mesmo que apenas uma parte da mão de obra disponível precise ser empregada. Ou seja, para o objetivo de reprodução do capital a maioria da humanidade é dispensável.
Mas, se o objetivo for a qualidade de vida e o bem estar dos cerca de 7 bilhões de seres humanos que estão vivos neste momento? O que devemos fazer como espécie e civilização, diante da pandemia e da crise econômica?
Claro que a saída é alimentar as pessoas com os recursos disponíveis. Para isso é necessário a distribuição da riqueza de modo atender as necessidades vitais de cada ser humano, comunidade, cidade e nação de modo incondicional.
É preciso parar de suspeitar da vida, parar de buscar na metafísica uma âncora transcendente para existência. É na imanência de nossa potência de afirmar a vida que está o verdadeiro suporte metafísico para o mistério aparentemente insondável da existência.
Superar a crise da civilização humana implica em afirmar a vida e o valor que damos a existência. Outra postura possível é o ressentimento contra a vida. A existência humana tem o mesmo valor em todos os casos. O morticínio sempre destrói a vítima e o assassino. No final das contas essa é ao mesmo tempo a história de cada um de nós e da própria espécie humana.
Os gastos militares das grandes potências, da ordem das dezenas de trilhões de dólares a cada ano, denotam o ressentimento contra a vida que vigora na civilização que fizemos existir ao longo da história. Não é inexorável que isso permaneça assim para sempre.
Aliás, a arte da guerra é uma ponte para a supressão das próprias guerras ou então não passa de outra forma de ressentimento e impotência diante da vida.
Nós sabemos o que devemos fazer como espécie. Fazê-lo implica em admitir a possibilidade de mudarmos nosso modo de existência.