Recusa de tratamento. A autonomia do paciente favorece ou prejudica o tratamento?

Olá Júnior…Seja Muito Bem Vindo á RHS!

Muito importante a discussão que você traz, estive num evento em que a palestrante Débora Aligieri (também blogueira na RHS) nos disse que o saber do usuário reside no fato de que é ele que experimenta a doença com o próprio corpo, e que para o tratamento ser realmente efetivo este saber precisa estar combinado ao saber técnico da equipe de saúde.

Em 2010 tive aulas com uma Professora Enfermeira que é membro da religião das “Testemunhas de Jeová” e logo veio em sala uma discussão sobre o direito do paciente recusar-se a receber transfusão de sangue para preservar sua crença. Ela nos disse que a legislação brasileira confere ao médico a decisão do que fazer nessas horas. Mas as pessoas tem direito de nascer, viver e também tem o direito de morrer.

Curiosidade: De acordo com dados do Censo de 2010 do IBGE, existiam 1,393,208 Testemunhas de Jeová no Brasil.

Enfim quando o paciente se recusa, ele está indicando que ainda existe algo incomodando e causando sofrimento, cabe nessas horas á equipe de saúde aliviar e tornar o tratamento o mais leve possível. Na tentativa de salvar uma vida ou impedir que ela siga seu curso, quanto sofrimento adicional a equipe de saúde causa ao enfermo?

No exercício da empatia e do bom senso, essa é a reflexão que te deixo invertendo a pergunta que intitula teu post:
Em nome da cura ou do tratamento, temos produzido quantas formas de sofrimento?

AbraSUS
Raphael

Agradeço pelo comentário, enriqueceu ainda mais esta postagem. Gostei muito da remodelação do titulo. Ainda há muito que se discutir sobre o tema. Sem dúvida a empatia é uma das virtudes primordiais que devemos considerar ao propor um tratamento ou na hora de realizar procedimentos.

Oi Junior,
achei muito pertinente, muitas das vezes a equipe de saúde fica com essa questão: como um paciente se recusa a um tratamento enquanto há tantos na fila esperando por essa “chance”. Penso que a humanização ética e bioética nos traz um engajamento muito oportuno. Não podemos mais simplesmente recusar a escuta ativa, ou simplesmente colocar que a escuta seja realizada pela equipe de psicologia ou assistência social.

Como será que podemos garantir que a escuta seja produtiva?
Aliás, bom lembrar que a autonomia só se cumpre quando há informação e esclarecimento sobre os procedimentos. Será que os pacientes e usuários realmente compreendem o que os efeitos colaterais produzem nos corpos?

Como disse Raphael, muito mais complexo quando temos que viver os efeitos colaterais em nós do que na bula do medicamento.

Achei muito interessante suas colocações, acho que o paciente precisa ter informações suficientes sobre seu tratamento para poder decidir em aceitar ou recusar qualquer tipo de intervenção!!

Junior,
Além das contribuições dos colegas, fiquei pensando: a serviço de quê ou de quem está o tratamento – onde se diz que há recusa por parte do paciente? Parece de resposta fácil e simples, mas decerto não o é.
Os Projetos Terapêuticos Singulares, dispositivos para o exercício da Clínica Ampliada, devem ser feitos por meio da abertura do diálogo, da escuta qualificada, considerando o que dizem os profissionais, os usuários e os familiares. Trata-se, portanto, de um processo de negociação, uma produção conjunta de um projeto de cuidado, chegando-se a pactuações, acordos, sobre o cuidado. Quem será cuidado, como será cuidado, quais serão as ações, como elas vão ser monitoradas, avaliação e ajustes contínuos. Neste contexto, deixa de ter sentido a falta de aderência, o abandono, a recusa. Quando se dialoga, quando se produz junto com o outro, quando não se exercita o autoritarismo, mas sim a democracia, produz-se outra maneira de trabalhar na saúde.
Abraço,
Sérgio