Recusando palestrar na 1ª Conferência Municipal de Saúde Mental de Joinville

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Agradeço ao convite formal feito pelo Conselho Municipal de Saúde de Joinville para palestrar

na 1ª Conferência Municipal de Saúde Mental de Joinville, mas preciso pontuar o seguinte:

As tratativas iniciais feitas por whatsapp nas quais me foi solicitado um currículo para ser aprovado pela comissão organizadora da Conferência feitas por sua coordenadora, me incomodaram porque não estou me candidatando a palestrar e minha trajetória dentro da saúde mental, elevando o nome da RAPS dessa cidade são públicas e estão disponibilizadas na internet, uma pesquisa feita na internet teria evitado este constrangimento, então antes de convidar alguém por gentileza verifiquem as informações por si mesmos.

Também acredito que se a cidade de Joinville valoriza-se realmente a saúde mental, teria chamado alguém de fora para a palestra magna, alguém com conhecimentos e experiências novas e dentro das perspectivas da Reforma Psiquiátrica Brasileira, da Luta Antimanicomial e da defesa do SUS, mas a própria coordenadora da comissão organizadora me informou que seria um médico de hospital privado desta cidade o palestrante principal.

Se Joinville pensasse no protagonismo dos usuários que é tão defendido na RAPS e pelos princípios da Lei 10.216/2001 a palestra magna poderia ser ministrada por mim ou por usuários atendidos pela RAPS Joinville num feito inédito nesse país.

Se Joinville realmente valorizasse seus trabalhadores e sua história a palestra magna seria ministrada pela Psicóloga Sandra Lúcia Vitorino que atuou por mais de 20 anos na Coordenação Municipal de Saúde Mental e ajudou a construir toda a Rede de Atenção Psicossocial que temos hoje.

É descabido em meia hora no segundo dia colocar várias pessoas para falar, pois o painel começa as 08:30 e termina ás 9:00 horas, ninguém terá protagonismo e nem haverá espaço para o debate de ideias.
Como ex usuário da RAPS Joinville, Ex Conselheiro Municipal de Saúde de Joinville e trabalhador da educação afirmo que o Conselho Municipal de Saúde está reproduzindo a estrutura clássica da opressão, onde o médico ocupa a posição de destaque, os outros profissionais são coadjuvantes e os usuários do sistema são figurantes mesmo nos espaços de controle social que por natureza devem privilegiar os usuários e os trabalhadores de saúde.

Dessa forma fico imensamente grato á organização do evento pelo convite realizado, mas não posso aceitá-lo pois da forma como está posto, mostra o quanto o controle social da saúde de Joinville desconhece os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira e da Luta Antimanicomial que eu ainda defendo.

Solicito gentilmente que minha resposta seja lida na reunião da comissão organizadora da conferência e se possível como informe na próxima reunião ordinária do CMS.
Desejo boa sorte a nova equipe da Secretaria Executiva do CMS na organização e execução deste evento.

Atenciosamente,

Raphael Henrique Travia