Reflexões sobre um curso pré-extensão em Atenção Psicossocial

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Historicamente, o diagnóstico em saúde mental serviu como um dispositivo de controle
social. Isso definiria os sujeitos que teriam a legitimidade e os que teriam seus discursos
invalidados. Nessa perspectiva, o manicômio sempre se sustentou por meio da mentira, por
isso, retirava do convívio social mulheres que perdiam a virgindade ou que engravidaram
fora do casamento, negros e negras que se voltavam contra o racismo, crianças canhotas,
entre outros. Nesta lógica, foi criado um estigma sobre essas pessoas de que elas “fariam
mal para sociedade”, isolando-os nos manicômios os ditos “sujeitos desviantes” que
ameaçavam a ordem social, os interesses políticos e econômicos de um determinado local.
Nos tempos atuais, temos as comunidades terapêuticas que nos fazem poder afirmar que
os manicômios na verdade nunca tiveram fim, pois essas se tornaram ferramentas de
controle e higienizado de corpos periféricos modernos. No entanto, a dimensão manicomial
não se dá apenas pela estrutura asilar, mas na mental, de forma que ainda existe a
reprodução da ideia de que para produzir saúde é preciso privar a liberdade, aprisionando o
outro na tentativa de discurso de verdades para dominação de corpos, em especial os mais
pobres e mais escuros. A luta antimanicomial veio para ir contra a desinstitucionalização da loucura e do
manicômio, pois tem o compromisso com o tratamento humanizado e a psicologia tem tudo
pra contribuir com isso, pois não é só quebrar os muros desse isolamento, mais do que
isso, é como a reprodução do manicômio mental continua produzindo sofrimento na vida
das pessoas. Contudo, esse foi algum dos temas presentes em nossas conversas durante o projeto pré-
extensão de Atenção Psicossocial que tem colaborado para uma formação antimanicomial,
possibilitando a visão da ampliação da Clínica, almejando mudança nas relações de saber-poder e autonomia nos cuidados entre todas as pessoas presentes no processo de produção de saúde.