Relato de experiência no CAPS

Este é um relato feito pelos estudantes do internato de Saúde Mental do 9º período da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, Maria Júlia Souza de Almeida e Samuel Cavalcante de Souza Barbosa. O estágio aconteceu no CAPS Dr. Sadi Feitosa de Carvalho no período de 28 de agosto a 20 de setembro de 2023 e tem como objetivo proporcionar o contato com o cuidado na atenção psicossocial.

Desde o primeiro dia de estágio foi possível perceber um dos grandes princípios do CAPS Sadi: o acolhimento de todos e com todos. E já foi possível observar essa característica de imediato a partir da recepção feita a nós por todos da equipe multiprofissional. Logo depois, ao acompanhar as atividades do CAPS, foi um grande destaque esse acolhimento com os usuários. A equipe multiprofissional possui uma relação com o usuário tendo como base o respeito, o diálogo, a compreensão; é formada uma relação sem estigma ou julgamentos. Com o decorrer do estágio, vimos que esse princípio contribui de forma abundante com o tratamento dos usuários, pois existe a formação de um vínculo: o cuidado é feito de forma integrada e todos os técnicos conhecem pelo nome e, pelo menos um pouco, a história e o tratamento de cada usuário. Uma situação marcante que exemplifica bem essa situação foi um usuário que apresentava distonia na mandíbula e foi rapidamente percebida por um dos técnicos, que comentou que na semana anterior ele não estava assim. Ao questionar com outro técnico, este comentou que o usuário apresentava essa reação ao utilizar determinado medicamento e que iriam conversar com o psiquiatra da unidade.

O CAPS Sadi funciona de segunda a sexta, nos períodos da manhã e da tarde. Os usuários são incluídos em grupos, na maioria das vezes com encontro semanal, dependendo da disponibilidade de cada um. Cada grupo é liderado por um ou mais técnicos que desenvolvem dinâmicas como roda de conversa, passeios e atividades lúdicas como bingo. Esses momentos são importantes pois permitem a socialização dos usuários, interação, lazer, reflexão, relaxamento.

A atividade do bingo é realizada sempre em toda primeira sexta-feira do mês, sendo coordenada pelos dois técnicos responsáveis nesses dias em questão. Digamos que para os usuários, esse seja um dos momentos mais esperados entre todas as atividades, pois, é divertido, diferente do que se espera encontrar em um serviço de saúde mental e além disso, eles podem ganhar brindes. Durante a realização, são estimuladas quase todas as esferas cognitivas, variando da atenção para a marcação correta dos números chamados, como até mesmo o conhecimento dos números e seu grau de alfabetização. É aí que a equipe e nós estudantes podemos conhecer melhor as particularidades de cada usuário, entendendo seu nível de autonomia individual, e os auxiliando em suas dificuldades para se obtenha um progresso. Ao final da atividade, a equipe sempre traz itens de relevância para serem distribuídos na forma de prêmios. Nesse dia em questão, eram kits de higiene pessoal, sendo trabalhado após a atividade a importância desse tema e também como fazer a correta utilização dos produtos recebidos. Dessa forma podemos perceber que uma atividade tida apenas como uma brincadeira para descontrair, pode ser utilizada de todas as formas, de modo sutil e não invasivo ao usuário, falando muito sobre ele e sua evolução ao longo do tratamento.

Uma outra atividade que participamos foi o passeio ao Mirante Santa Amélia e ao balanço gigante. Lá, foram feitas uma roda de conversa e uma dinâmica focada em relaxamento e movimentação corporal. Nessas atividades, principalmente nas que envolvem diálogo, conseguimos ver a presença e a importância do vínculo criado entre os membros do grupo por meio dos relatos e troca de experiências.

Também acompanhamos a farmácia, triagens e visitas e, em todas essas experiências, foi possível ver uma abordagem que foge do modelo institucionalizante e hospitalar do cuidado à saúde mental. Assim, nesse estágio conseguimos ver, na prática, o CAPS funcionando como uma importante ferramenta terapêutica e da luta antimanicomial.