REPENSAR O “PODER” E O “FAZER”
Estas declarações acima causam incômodos nos mais diversos segmentos. Seja nos responsáveis pela gestão hospitalar, seja nos profissionais que atendem, seja nos clientes/pacientes que com muito freqüência são tratados como objetos e/ou números.
Seqüelas são cristalizadas, feridas abertas e a poesia aqui não tem sentido.
Tem sentido sim uma séria reflexão sobre o PODER e o FAZER, sejam eles nos cenários privados como nos serviços públicos. Conflitos e mais conflitos fazem parte de nossas rotinas por falhas humanas, naturalmente; mas não podemos mais aceitar a geração de crises e conflitos num atendimento público, seja na educação, saúde, transporte, serviços de manutenção e outros mais.
É uma burrice política inaceitável do gestor que não leva em consideração o FAZER e se deixa contaminar pelo PODER, que muitas vezes é alimentado pelo aplauso falso ou mesquinho ou interesseiro.
É uma burrice gerencial inaceitável, por parte de gestores que não sensibilizaram seus cenários e colaboradores para o humanismo responsável, que acabam por alimentar cada vez mais a descrença no papel e imagem do político.
Tenho visto sugestões no sentido de cursos de Oratória para políticos, como se tais treinamentos viabilizassem a excelência no trato humanístico do outro ‘ouvinte’. Tais colocações servem também para outros cenários, como no campo esportivo onde as falas de ‘técnicos’ não correspondem às verdades. Temos como exemplar modelo, negativo sob minha ótica, aquele jornalista que tem um programa de Tv que fala que “não inventa, mas aumenta”.
Precisamos sim de cursos de ESCUTATÓRIA, tal como proposto por Rubem Alves que afirmou: “Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.”
Então temos que buscar reflexões sobre o PODER x o FAZER, pois atendimentos deploráveis, como recentemente fui testemunha em um caso no INSS quando acompanhava um paciente, no qual o médico, responsável pela perícia, simplesmente me expulsou da sala de forma deselegante e grosseira, alegando que não iria fazer o atendimento, diante de minha presença. Ditatorial e sem ética, tal médico não levou em consideração ao menos as minhas ponderações sobre o quadro psicológico do paciente ao qual acompanhava.
O PODER da arrogância em detrimento do FAZER com HUMANISMO RESPONSÁVEL; o PODER dos títulos e dos ‘doutos’ e em detrimento do CATIVAR e ENCANTAR o outro pelo sentimento da empatia (se colocar no lugar do outro).
Não posso culpar o Ministro da Previdência Social pela atitude antiética e desumana de tal profissional que creio deva ter ao menos lido seu Código de Ética.
Mas tal relato serve sim para declarar um argumento a mais neste rol de conflitos gerados pela convivência humana. Somos inteligentes, mas insolentes no trato do próximo! Somos capacitados, mas desprezíveis ao desprezar o outro. Somos doutores e sábios, mas ignorantes em gerenciamento das relações interpessoais e intra-pessoais.
Entenda-se que tais colocações servem para os mais diversos cenários da convivência humana; seja no exercício da segurança pública; nos ambientes educacionais; seja na convivência religiosa onde alguns são tratados como servos diante dos ‘senhores’; e assim por diante;
Crises existem e sempre existirão, mas cabe sim uma séria reflexão sobre a postura e a criatividade diante das crises que acometem serviços, principalmente públicos, que são aqueles pagos como o dinheiro da população.
Tal declaração é de quem foi durante décadas servidor público, na saúde mental; também profissional técnico de diversas Ongs e trabalhador de empresas privadas. Isto não é curriculum vitae, mas sim uma manifestação justificada de quem vivenciou e/ou vivenciou os dois lados a moeda.
Aqui não me cabe julgar, nem mesmo diagnosticar causas e cenários; mas sim publicamente provocar, ou quase exigir seria e objetivamente, momentos de reflexão entre dois conceitos: o PODER e o FAZER.
“Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.” Carl Rogers
Rubem Alves comentou sobre a tal “Escutatória”.
“Sempre vejo anunciados cursos de ORATÓRIA. Nunca vi anunciado curso de Escutatória. Todo mundo quer aprender a falar… Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de ESCUTATÓRIA, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que… Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:
“Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade:
A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor…
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração…
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.”
Tito, psicólogo organizacional
CRP 06-1631-3
[email protected]
Por Stella Maris Chebli
Interessante tua reflexão Tito. Acho que nunca haverá um cenário sem conflito justamente pela alteridade entre nós, as diferencias da história de vida, mas também pelas relações de Poder. Penso que, ao final, tudo se resume numa ética do respeito e acolhimento às divergências com os “outros”….
Abraços