RESENHA DO ARTIGO TRAVESSIAS DE HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE MENTAL: TECENDO REDES, FORMANDO APOIADORES
O presente artigo é de autoria de MELLO, Roseli Correa; APULON, Simone Mainieri publicado no Caderno Humaniza SUS, vol. 5.
Objetivo maior do artigo repousa em qualificar o atendimento em saúde mental, vendo nas premissas da Política Nacional de Humanização um terreno adequado para construção de pontes, de vínculos teóricos e práticos. Faz sentido o diálogo entre Política em Saúde Mental e Política Nacional de Humanização porque Compartilham, entre outras afinidades, a promoção da autonomia e do protagonismo dos sujeitos; a inclusão das diferenças, como incremento às experiências coletivas; e a mudança nos modos de produção do cuidado em saúde.
Entre os desafios apontados encontra-se a necessidade de criar tecnologias sociais leves para a saúde e de aproximar a academia dos serviços públicos em saúde. Já atentos a essa realidade, o Ministério da Saúde/SAS/PNH, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Regional Cadernos HumanizaSUS 89 do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), com o apoio da Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (SES/ESP-RS), organizaram a primeira edição do Curso de Especialização da Humanização da Atenção e Gestão do SUS, ocorrido entre junho de 2007 e abril de 2008.
Desde 2003, implantação do Política Nacional de Humanização, a concepção de humanização passou por amadurecimentos, transitando do “conceito-sintoma” para o “conceito-experiência”, ou seja, não apenas inserir práticas incapazes de alterar os jogos de forças, conflitos subjacentes, mas adotar práticas transformadoras de realidade. Nessa perspectiva, o modo de fazer saúde requer processos de mudança nas organizações, oferece suporte aos movimentos desencadeados pelos coletivos, oferta conceitos e tecnologias para qualificar os processos de produção de saúde, valorizando diferentes saberes que circulam, viabilizando os projetos pactuados por atores institucionais e sociais.
Na busca desse “modo de fazer” que Cursos de Especialização são ofertados para expandir os princípios da Política Nacional de Humanização: transversalidade; indissociabilidade entre atenção e gestão; protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos.
No que tange a saúde mental, desde a reforma psiquiátrica de 1970, as práticas em saúde também oscilam entre o “conceito-sintoma” e o “conceito-experiência”. Muitas intervenções não dialogam com o objetivo de promover políticas de inserção para o usuário da atenção em saúde mental, sendo necessário um novo olhar social, civil e político para o portador de transtorno mental.
Observado esse desafio em comum da Política Nacional de Humanização e da Reforma Psiquiátrica, bem como o objetivo em comum das duas políticas, a ponte foi concebida no sentido de ultrapassar o que é decreto e investir no que é ação marcada pela radicalidade da experiência de alteridade e se traduz numa concepção de cuidado, que é ético-estético-político. Em 11 trabalhos analisados do Curso de Especialização na Humanização da Atenção e Gestão do SUS, ocorrido entre 2007 e 2008, descreveram ações em saúde mental em que se destacava importantes diferenciais como grupabilidade, transversalidade e protagonismo dos usuários.
Tais relatos analisados revelam um “modo de fazer” que adotam um novo paradigma de saúde, no qual todos são atores do processo de construção do estado de bem estar, afastando-se da perspectiva de que saúde significa ausência de doença, ou que considera a saúde mental como referência para inserção ou exclusão social. Contudo, a metáfora da ponte já traz implícito o desafio que há entre os diferentes saberes, muitas vezes trabalhando de forma isolada e replicando crenças de que o portador de saúde mental não pode estar contemplado nos padrões de cidadania ou dividir espaços públicos. Há portanto, uma necessidade de multiplicar, já nos cursos acadêmicos, iniciativas de formação para esse “modo de fazer” proposto pela PNH, bem como desenvolver campanhas junto à sociedade que promovam um novo olhar para saúde mental e seus usuários.
TORRES, Bianca Ribas Mazzucco.