Sou Som: a música que toca em mim – arte e saúde mental no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo
A arte luta com o Caos, mas para torná-lo sensível – Deleuze e Guattari
Em 1990 o Centro Cultural São Paulo e o Hospital do Servidor Público Municipal construíram uma parceria fincada na relação dos equipamentos de cultura e sua função social no território do entorno onde se inserem. Esta parceria gerou um trabalho colaborativo tão fecundo a ponto de se manter até hoje, com todos os percalços advindos dos desmontes produzidos por toda espécie de lógicas medicalizantes do trabalho em saúde.
Buscarei relatar aqui a produção mais recente deste encontro simbiótico entre as duas instituições, sem deixar de fazer menção às importantes experimentações anteriores.
O folder convida a todos para apreciar o produto do trabalho feito por usuários de saúde mental do hospital no espaço do centro cultural. Trata-se da exposição da Oficina de Escrita e Imagem da Secção Técnica de Psicologia do Adulto do HSPM, coordenada pela psicóloga Thaís Rodrigues Silva. A mostra reúne mandalas e objetos feitos com CDs reciclados, desenhos, fotos, escritos e poemas inspirados na Oficina de Música “Sou Som: a música que toca em mim”. De 6 a 21 de dezembro de 2018, no saguão do terceiro andar do HSPM, na rua Castro Alves, 60.
As artes e notadamente a música produzem uma comunidade de sentimentos, desejos, enfim, um território subjetivo comum, experiência que vem sendo solapada pelo imperativo capitalista do viver solitário e isolado na luta pela vida. Este modo “empreendedor de si” tem atravessado toda a experiência existencial e é particularmente devastador no caso das pessoas portadoras de sofrimento psíquico mais radical. Portanto, toda experimentação de uma outra sociabilidade, de cunho solidário e cooperativo é terapêutica num sentido ampliado.
O projeto propôs aos usuários dos serviços de saúde mental do HSPM e a outros sujeitos interessados a experiência musical por intermédio da visitação e pesquisa na Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo. E também a experimentação de técnicas de impressão ( serigrafia e xilogravura ) na Folhetaria do CCSP, finalizando com a gravação de um CD com o material selecionado no estúdio de gravação da Rádio do CCSP. Foram 12 encontros semanais ( setembro a dezembro de 2018 ) com roda de escuta, compartilhamento de repertórios musicais afetivos e práticas artísticas em atelier público. Poemas, narrativas, desenhos, impressões gráficas e fotos estão na mostra.
A equipe técnica foi composta por:
Thaís Rodrigues Silva – psicanalista, psicóloga e coordenadora da Oficina de Escrita e Imagem e da Oficina de Cinema do HSPM
Djayson de Castro – Ação Cultural do CCSP – Centro Cultural São Paulo
Marta Fonterrada – Ação Cultural do CCSP
Rodrigo Taguchi – Ação Cultural do CCSP
Edson Marçal – Discoteca do CCSP
O projeto Oficinas teve início nos anos noventa, como já referimos anteriormente, com a oficina de papel e as oficinas de arte dos usuários dos serviços de saúde mental da infância e adolescência e adultos do hospital. Assim como a oficina de música, eram abertas para a participação de todos os que quisessem se incluir aos grupos.
A oficina de adolescentes teve início em 2002, quando a parceria entre CCSP e HSPM se estendeu à Clínica de Psiquiatria e Psicologia da Infância e Adolescência. Foi coordenada pelas psicólogas Terezinha Cruz e Maria Luiza Carrilho Sardenberg ( HSPM ) e Carmita Muylaert ( CCSP ).
Guache sobre papel corrugado na oficina arte de jovens e adultos, feita a partir da visita à exposição Albert Eckout – Volta ao Brasil – Pinacoteca do Estado.
Etapas da confecção de tênis em nanquim sobre papel e papelagem – oficina de jovens.
Por Ricardo Teixeira
Trabalho maravilhoso, Iza!
E é a primeira vez que você nos fala dele em tantos anos, não?
Desculpe-me se eu não me recordo de alguma coisa…
Beijos.