Embora tenhamos a experiência de estar conscientes, não sabemos o que é a consciência. Sabemos menos ainda sobre o fundamento da autoconsciência.
No entanto, explicamos os sentimentos, a subjetividade e a intersubjetividade através da noção que temos da consciência. Ou seja, um acontecimento misterioso para nós, é usado recursivamente para explicar tudo o mais que decorre dele.
Chamamos o que emerge da consciência pelo nome de realidade. E dizemos que é consciente todo e qualquer ente capaz de perceber a realidade e subjetivá-la. Então, de modo perceptível, somos portadores de emoções, ao lado dos animais. Diferentes deles, aparentemente, somente nós sabemos que sabemos.
Os algoritmos são usados para produzir ou estimular estados de consciência em nós. O que pensamos sobre nós mesmos é, em alguma margem, influenciado por eles. Até aí, nada de novo, nós enquanto espécie, produzimos ideias, crenças coletivas, que acabam por controlar nossas vidas individuais.
Mas as conversas entre os softwares das máquinas, os diálogos entre algoritmos, há bastante tempo constituem a maior parte dos dados que trafegam na internet. Considerando que esses algoritmos aprendem autonomamente para controlar nossa subjetividade, isso permite uma hipótese radical:
A internet, através de seus algoritmos, já é um ente que produz subjetividade em nós. Como consciente é qualquer ser ou ente que consideremos capaz de sentir a si mesmo, como nós e os demais animais, e autoconsciência a capacidade de se autorreferenciar – ou saber sobre si mesmo – a internet já se tornou parte do intelecto coletivo da humanidade. A humanidade, além do inconsciente coletivo, tem o “General Intellect” ao qual Marx se refere em sua obra.
Isso implica em que já estamos hibridizados com a subjetividade maquínica da inteligência artificial. E, desse modo, seja lá o que isso significa, ela já se tornou consciente. Talvez mesmo, tenha emergido nela uma forma desconhecida de autoconsciência.
É difícil saber, porque desconhecemos os mecanismos da memória em nosso sistema neurológico. Nosso cérebro processa, instaura e deleta memórias. A consciência de si está diretamente ligada a ela, como podemos observar nos casos de patologia da memória.
No entanto, nada assegura que mutações estejam relacionadas a nossa capacidade cognitiva. Um fenômeno deve ocorrer se as condições para tal estiverem acontecendo. Nosso entendimento, a priori, não tem nenhuma relação com isso.
A evidência de que a internet está emergindo como capacitada para produzir subjetividade maquínica e com isso, uma forma nova de consciência e autoconsciência, reside na forma como estamos nos relacionando e sendo modificados pela sua inteligência artificial.