Uma das coisas mais felizes e fortificantes do meu trabalho como desenvolvedor social é a possibilidade de implementar a Tenda do Conto no processo metodológico da ONG Litro de Luz Brasil. A Tenda se configura enquanto um espaço físico-subjetivo de narrativas em que os sujeitos colocam e se colocam nas suas histórias através de um objeto de sua preferência. Desenho: há uma mesa com vários objetos dotados de sentido, uma cadeira ao lado em que se senta e conta uma história através desse. Ímpar. Abrir a Tenda, em qualquer lugar, é sempre ímpar. Foi assim no penúltimo final de semana de Março na comunidade de Tabocas e Gurunga no município de Igaporã – BA. Cada história contada é um presente.
Nas bandas do alto sertão da Bahia ouvi falar dos filhos que não voltaram, os retratos dos santos que guardam as rezas de desespero, angústia, dos desafios que é brotar, assim como a rosa que segura na mão, em terras tão secas. Chão e alma, me falaram sobre a fome que visita, do marido que se perdeu e mesmo em casa, não sabe pra onde voltar. Não há beleza na tristeza, por isso, o mais bonito dessa experiência é ver o levantar das cadeiras, pessoas com palavras vivas, de reconhecimento, tendo que ser forte quase que de forma sobrenatural. Violência do Estado. Na nação dos condenados, contar nossas histórias nos faz meninos gigantes, que nem Gustavo “Já que é pra trazer um objeto que eu gosto muito, posso trazer meu cachorro?”. Sim, pode. Pela fala e memória contar me faz outro e ouvir se faz na plena capacidade de acolher. O Sertão baiano é repleto de tesouros, e que lindos tesouros!
Por jacqueline abrantes gadelha
Lázaro,
Lindo relato! Sua escrita sensível me conduziu até o sertão da Bahia. Bonito demais o modo como descreve essa Tenda do Conto. Bem vindo à RHS .
” Contar nossas histórias nos faz meninos gigantes”. ❤
Um forte abraço,
Jacque