Um breve debate acerca do valor da Autonomia do paciente

Muito bem colocado, Aires.
Como podemos refletir em nossas aulas, o paciente não é a doença que possui, assim como o seu tratamento não pode se resumir apenas a medicação. Infelizmente,não é incomum encontrar em nossas práticas pacientes que apenas usam a medicação ‘’cegamente’’, sem saber para que serve, doses, suas interações, efeitos colaterais e contraindicações absolutas e relativas.Isso, com certeza, reduz a eficácia do tratamento e a autonomia do paciente. Este, por sua vez, nem sempre sabe dos seus direitos.
É nesse que sentido que a Gestão Autônoma da Medicação precisa ser debatida e difundida.

E é Interessante que além de empoderar o paciente estimulando a sua autonomia, ela também trata da cidadania, pois aborda os direitos dos usuários, que muitas vezes são esquecidos. Por exemplo , como aponta no Guia de Apoio a Moderadores (CAMPOS; PASSOS; PALOMBINI et al., 2014) o direito aos laudos médicos e atestados. O profissional que acompanha o paciente não pode se recusar a fornecer um laudo ou atestado.
Outro aspecto muito importante é dialogar com o paciente sobre os remédios que ele toma e sobre a percepção deles e esclarecer sobre efeitos as doses, interações.para que servem, para quem são indicados quanto tempo fazem efeito e efeitos colaterais. E apresentar, dentro das possibilidades, alternativas ao tratamento para que seja mais confortável para o paciente e ele tenha uma melhor adesão.
Por fim, acredito que a GAM é um ferramenta e uma estratégia de cuidados muito enriquecedora e que em muito pode contribuir para o tratamento do paciente. Ela precisa ser mais debatida e conhecida, para quem sabe um dia ser utilizada, além da saúde mental, em toda atenção primária.

Referências :

GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO – Guia de Apoio a Moderadores. Rosana Teresa Onocko Campos; Eduardo Passos; Analice Palombini et AL. DSC/FCM/UNICAMP; AFLORE; DP/UFF; DPP/UFRGS, 2014. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces

Olá Aires,

Bem vindo à Rede HumanizaSUS!
Excelente o tema escolhido para abrir o debate aqui na rede! A produção de sujeitos autônomos e protagonistas é uma das grandes apostas da Política Nacional de Saúde, para o empoderamento desses sujeitos no processo de produção de saúde. E o questionamento trazido: “O que é saúde?”, me remeteu à fala do Prof. Túlio Franco, Coordenador da Rede Unida, numa live do Seminário Internacional Atenção Básica e as (Re)existências na Pandemia, ocorrida ontem, onde pontuou o conceito de saúde, à luz do pensamento do Spinoza, que compartilho aqui: https://www.youtube.com/channel/UClhsQEKLDcF0LrSA2NEl6Xg

AbraSUS

Emília

Ótimo texto, Aires Gabriel.
Como foi visto em nossas aulas, sempre temos que ter em mente que saúde não é apenas a ausência de doença. Apesar da reforma psiquiátrica que ocorreu no país, ainda temos muitos aspectos da “antiga” política de saúde mental, na qual pacientes não são considerados agentes atuantes no processo terapêutico das doenças mentais. Desse modo, temos como resultado condutas menos eficazes e com menor adesão populacional. Como alternativa para melhorar tratamentos psíquicos surge a Gestão Autônoma da Medicação (GAM).

A GAM surge nesse contexto de mudança na forma de lidar com doenças mentais, sendo implementada no nosso pais com base em guias de outros países como o Canadá. Tem como base fornecer autonomia ao paciente para que esse possa entender melhor seu estado de saúde, direitos em saúde e os aspectos envolvidos entre a sua vida e as medicações usadas. Para isso é de suma importância que o individuo se conheça e saiba a respeito da sociedade que o cerca, seus pontos de apoio e fraquezas, além de entender que saúde é um direito de todos que deve ser sempre respeitado e discutido com os profissionais.

Portanto, com a prática da GAM o dialogo entre medico e paciente é melhor estabelecido, sendo traçados objetivos que possam ser entendidos e cumpridos pelas duas partes. Além disso, é possível se estabelecer relação de confiança, melhorando a adesão e facilitando o processo terapêutico, fazendo com que esse tenha mais sucesso e seja alcançado da melhor maneira possível. Conforme citado pelo escritor e psiquiatra Brasileiro Augusto Cury “Os fracos usam a força, os fortes usam o diálogo. Os fracos dominam os outros, os fortes promovem a liberdade…”

Excelente texto para demonstrar a importância do desenvolvimento de autonomia do paciente, apresentando a Gestão Autônoma da Medicação como uma das ferramentas para uma psiquiatria mais humanizada e participativa.
Durante nossos encontros e discussões nos últimos meses, foi possível perceber o quanto a psiquiatria em si já sofreu transformações nos últimos anos, principalmente após Reforma Psiquiátrica, no entanto a saúde mental ainda apresenta pontos negativos, que podem ser melhorados.
O primeiro ponto que deve ser destacado é a medicalização da Medicina, principalmente na área da saúde mental, pois tudo que foge do determinado como “normal” passa a ser visto como doença e, consequentemente já ocorre a introdução de tratamentos baseados no uso de fármacos. O indivíduo passa a ser viso apenas como portador de uma determinada doença, sendo ignorada as demais características que o forma, assim como suas experiências, pensamentos e desejos. O segundo ponto de importante discussão é a visão paternalista da Medicina que continua em vigor, na qual a relação médico-paicnte é estratificada, com poucas possibilidades de diálogo e de avaliação das vontades do indivíduo, além da a falta de informação do mesmo sobre o tipo de tratamento que está sendo utilizado e os prós e contras das medicações.
Dentro desse contexto, os GAMs se apresentam como uma forma interessante de troca de informações, possibilitando ao usuário entender melhor sobre seus sintomas e características, e sobre tudo, sobre as possibilidades de tratamento, permitindo uma participação mais ativa do indivíduo. Artigos qualitativos, como A Gestão Autônoma da Medicação: uma intervenção analisadora de serviços em saúde mental (ONOCKO-CAMPOS RT, et al., 2013), demonstram a eficácia do uso desse tipo de programa na saúde mental, comprovando o desenvolvimento de maior autonomia por parte dos usuários e de uma maior adesão aos tratamentos, além de uma maior interação entre os indivíduos, permitindo a troca de experiências pessoais.

Referência: Onocko-Campos RT, et al. A Gestão Autônoma da Medicação: uma intervenção analisadora de serviços em saúde mental. Ciência e Saúde Coletiva, 2013.

Sempre importante lembrar que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim uma situação de bem estar físico, mental e espiritual. Esse conceito mais atual de saúde é fundamental para uma medicina humanizada, principalmente quando falamos na área de saúde mental. A Reforma Psiquiátrica foi um importante passo para melhora da atenção a saúde mental no Brasil, porém ainda estamos longe do ideal como discutimos bastante nas aulas.
A medicalização excessiva e a ausência de outras formas de tratamento são extremamente comuns na medicina brasileira e isso gera, muitas vezes, tratamentos incompletos, ineficazes e polifarmácia. Este fato não é diferente na saúde mental. Grande parte dos pacientes são tratados apenas com medicamentos e esquecem de diversas outras formas de tratamento que são tão importantes quanto remédios.
Além disso, muitos pacientes não entendem a motivação do uso de seus medicamentos, seus efeitos colaterais ou que existem outras opções terapêuticas. Por isso, é fundamental comunicação entre o paciente e os profissionais de saúde que o acompanham, para que seja decidido em comum acordo o que é melhor para o paciente. Uma boa comunicação gera bons relacionamentos entre pacientes e profissionais de saúde, acarretando em maior adesão aos tratamentos e melhora na qualidade de vida dos pacientes. Como autonomia é essencial para uma boa comunicação, ela também é essencial para melhora da qualidade de vida dos pacientes.
Referência:
GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO – Guia de Apoio a Moderadores. Rosana Teresa Onocko Campos; Eduardo Passos; Analice Palombini et AL. DSC/FCM/UNICAMP; AFLORE; DP/UFF; DPP/UFRGS, 2014. Disponível em: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/laboratorio-saude-coletiva-e-saudemental-interfaces

Fantástica sua observação, Aires. Creio eu ter sido o post que mais me contribuiu de maneira reflexiva em todo site, parabéns, realmente FANTÁSTICA abordagem do tema.
Com certeza recebeu muito boa orientação para conseguir passar essa mensagem de um assunto tão pertinente.
Acredito que sempre devemos ter em mente que o processo terapêutico é uma via de mão dupla, em que uma boa relação medico paciente deve sempre nortear para melhores resultados e, com isso, chegarmos ao conceito de SAÚDE (com bem estar bio-psico-social). Para isso, sempre devemos instituir na nossa própria pratica clínica sempre um tratamento individualizado e direcionado, sempre respeitando a autonomia do paciente, principalmente para pacientes psiquiátricos, que possuem respostas muito individuais ao tratamento proposto. Tendo em vista isso, a GAM, como foi colocado, foi um instrumento de extrema importância que surgiu para nos auxiliar e que deveria possuir uma abrangência maior do que a realmente vemos na prática. De toda forma, muito boa e atual sua abordagem. Grande abraço!

Lendo o post e todos os comentários feitos até o momento, gostaria de ressaltar a importância da participação ativa, o respeito e incentivo ao protagonismo e à autonomia das pessoas. Saúde se faz junto com o outro, em uma relação horizontalizada, lateralizada, inclusiva e negociada em um projeto de cuidado.