Uma nova perspectiva de cuidado em saúde mental

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Em nossa sociedade, apesar da existência de movimentos políticos como a Reforma Psiquiátrica e a Política de Nacional de Humanização, ainda é reproduzido medidas que representam um preocupante retrocesso na política pública de saúde mental. Ainda é ofertado para indivíduos, um modo de tratar indiferente à dor, ao sofrimento, à singularidade e à complexidade das vidas que são retiradas das ruas e enclausuradas.

O autor do artigo, Silvio Yasui, posiciona-se elucidando que prezar o princípio de liberdade na saúde mental é a melhor forma de cuidado. Fazendo uma abordagem de sua trajetória, desde sendo estagiário no campo da Psicologia até começar seu trabalho como psicólogo, ele relata cenas que vivenciou dentro de hospitais psiquiátricos onde a situação era extremamente precária.

Após o relato das cenas vivenciadas, entre a primeira e a última passaram-se 36 anos e, é visto que, ainda se continuava o mesmo modelo conservador de medidas policialescas e higienistas.  Indivíduos enclausurados, pedindo socorro pela sua situação, onde o modo de cuidado mostra-se precário, com a presença de segregações, violências institucionais, isolamentos e degradação humana.

Através das influências de manifestações políticas, como nos movimentos da Reforma Psiquiátrica, trazendo as perspectivas: ‘’liberdade é o melhor cuidado; trancar não é tratar; saúde não se vende e loucura não se prende’’, o artigo apresenta uma nova visão ao campo da saúde mental, onde destaca que pensar o cuidado em liberdade provoca inovações na prática terapêutica, representando uma nova forma ao se ver o sofrimento psíquico.

Um fator importante é que, através da Política Nacional de Humanização, um projeto ético-estético-político, onde o ético se refere ao compromisso e reconhecimento das subjetividades humanas; estético por que busca uma nova perspectiva que contribui para a liberdade e dignidade de todos os indivíduos e, político por que implica, o compromisso coletivo de envolver-se e lutar por uma nova política em saúde pública, pode-se evidenciar que, a PNH e a Reforma Psiquiátrica, compartilham dos mesmos princípios, tendo como base a liberdade humana.

A PNH e a Reforma Psiquiátrica são dois movimentos importantes nesse processo pois buscam, opor-se a resistência atual do projeto hegemônico que se instala em nossa sociedade, onde se menospreza a capacidade inventiva e autônoma dos sujeitos; mercantiliza-se a saúde; apresenta-se modos de cuidar centrados na doença; trabalhadores destituídos da capacidade de decidir e usuários que só são escutados, impacientemente, em suas queixas. Isso tudo, contribui para uma naturalização do cotidiano produtor de indiferença ao sofrimento do outro.

Para PNH, a consolidação do SUS é aquela que reconhece o indivíduo com todos os seus direitos, respeitando seu contexto em todas as formas, valorizando os diferentes sujeitos implicados nesse processo de produção de saúde. É uma aposta na potência dos indivíduos que vivem através das forças conservadoras, onde são um obstáculo para agir diferente.

Uma nova produção de práticas terapêuticas, pautada na compreensão da pessoa e, visando a transformação de suas possibilidades e uma construção cotidiana, da liberdade como base da prática terapêutica, vai contra a mercantilização das relações entre os sujeitos, podendo transformar essa situação em melhor qualidade de vida.

Portanto, saliento a importância de investimentos que mudem o cenário de um cotidiano conservador que reproduz assujeitamentos, heteronomias, subjetividades tristes e servis. É preciso estar atento aos contextos precários e aos gritos de socorro de pacientes psiquiátricos que ainda ecoam. O autor traz a perspectiva de que nada é natural e nada é impossível de ser mudado, onde pode-se apostar na potência da criação e invenção de um novo modo de cuidar, tendo como foco a liberdade humana.

Autora: Ana Carolina Moraes de Castro

Resenha crítica sobre o artigo: Entre o Cárcere e a Liberdade: Apostas na Produção Cotidiana de Modos Diferentes de CuidarCaderno de Saúde Mental. Cadernos HumanizaSUS, volume 5 – Saúde Mental. Página 14.

Introdução à Psicologia da Saúde IV Semestre.