Vai ter “Porancy” para receber Ynawá, “a água de chuva que traz fartura”, nascida no HMIJS

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O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, atende, por mês, em média, 60 gestantes que se autodeclaram indígenas. Com a iniciativa, o atendimento ganhará qualificação na prestação do serviço, respeitando contextos interculturais, cuidados tradicionais e a presença de atividades de educação permanente nas aldeias, dentre outros importantes eixos.

O hospital, por intermédio da Secretaria de Saúde do Estado e da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUSU), gestora da unidade, já apresentou ao Ministério da Saúde um plano de ação para a execução de um programa de incentivo da atenção especializada para os povos indígenas do estado. Será o primeiro hospital a promover este atendimento na Bahia, onde existem 35 mil indígenas, de 20 etnias, distribuídos em mais de 130 aldeias. Juntos eles representam 0,5 por cento da população indígena do Brasil.

Chuva e fartura

Enquanto uma inesperada chuva caia sobre Ilhéus, Tainaçã, uma indígena de 20 anos, da etnia Tupinambá, ocupava a Sala 1 do Centro de Parto Natural (CPN) do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio e se emocionava ao ver o nascimento de Ynawá, que na língua tupinambá significa “água de chuva que traz fartura”. Desde cedo, ela já era acompanhada por uma equipe do CPN, esperando o momento do nascimento da filha. “Foi uma experiência maravilhosa. Eu tinha um pouco de medo por ser indígena e de sofrer preconceito quando chegasse para parir. Aqui eu vi que é tudo diferente. Fui acolhida desde a chegada, isso me fez me sentir mais à vontade e até me ajudou na hora do parto”, disse, enquanto tranquilamente amamentava a recém-nascida.

Tainaçã, que na língua tupinambá, significa “Estrela da tarde” já foi para casa. Mas uma grande festa está sendo planejada para breve, na aldeia do Acuípe de Baixo, território de Olivença, litoral sul de Ilhéus. A tribo prepara o “Porancy”, um ritual com dança e orações para dar boas-vindas à nova moradora da comunidade. O pai Nawã em reconhecimento ao atendimento do hospital entregou à equipe um cocar que, para o indígena, tem o significado de representar a necessidade de manter a cultura e a centralidade dos pensamentos da etnia. “Espero que ela seja uma menina guerreira, guerreira pelos direitos dela. Representar o povo dela por onde ela for e não ter medo de se autodeclarar indígena”, disse Tainaçã.

Parecido com a tradição da aldeia

A avó de Inawá, a liderança Amana, disse que 20 anos atrás a filha nasceu em casa, acompanhada por pessoas da própria tribo. “Via tanto bem falar do hospital que trouxemos ela sem medo. A gente foi tratada como na aldeia, tendo a mãe, a avó, as pessoas ao lado dela o tempo todo. Ela não ficou sozinha um só minuto”, relatou. A proposta do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio é justamente pela acolhida e humanização durante o parto através do Sistema Único de Saúde (SUS), onde são incentivados os princípios da universalização, da eqüidade, da integralidade, da descentralização e da participação popular.