Vivências de Estudantes de Medicina em um CAPS

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Escrito por: Cecilia Antonieta Monteiro Araujo e Inara Lourenço Leitão, estudantes do internato em Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas.

No contexto da luta antimanicomial, o trabalho desenvolvido nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) é essencial para a desconstrução do aparato manicomial no Brasil. Desde o início da reforma psiquiátrica enfatiza-se a importância de garantir os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, sendo as práticas desinstitucionalizantes desenvolvidas nesses centros, mecanismo indispensável para a garantia de um cuidado efetivo e humanizado. Além de serem porta de entrada das RAPS (Redes de Atenção Psicossocial), os CAPS são responsáveis pela coordenação do cuidado entre os níveis de atenção, promovendo a integralidade nas ações de saúde mental.

O acompanhamento nos CAPS não reduz o tratamento do transtorno mental apenas à medicalização e possibilita uma co-responsabilidade e maior protagonismo do usuário no seu processo de cuidado mental. O PTS (Projeto Terapêutico Singular) é uma ferramenta construída de acordo com as necessidades do indivíduo, que descentraliza a terapêutica nos profissionais de saúde e proporciona o compartilhamento dessa responsabilidade de construção e execução entre todas as partes envolvidas (equipe de saúde, usuário e família), criando vínculo e estabelecendo confiança, o que favorece o sucesso das metas pactuadas e do estabelecimento de autonomia do usuário. Um dos propósitos do PTS é a centralização do trabalho terapêutico no objetivo de enriquecer a existência global do usuário, possibilitando sociabilidade, convivência e inserção na comunidade, este é alcançando atrás das diversas atividades desenvolvidas nos CAPS como atividades em grupo, oficinas terapêuticas e ações provedoras de autonomia.

Durante o estágio de saúde mental, tivemos a oportunidade de conhecer melhor o contexto de um CAPS e suas atividades, acompanhando algumas oficinas, atividades de grupo e o trabalho das diferentes categorias profissionais. Foi possível ver de perto que a saúde mental vai muito além de uma visão puramente medicamentosa. As atividades desenvolvidas no CAPS nos fizeram perceber que seu papel é não só terapêutico, como também é de constante busca pelo desenvolvimento da autonomia do indivíduo e atividades manuais que apresentam potencial de gerar renda. Vivemos os dias de estágio intensamente colocando também a mão na massa, literalmente. Produzimos junto aos frequentadores do CAPS, pães recheados e macramê. Tudo sendo, de uma certa forma, terapêutico para nós também.

https://drive.google.com/file/d/1HM-O325TnuAeM1jKNbul7rKWHQ_fKe_P/view?usp=sharing

https://drive.google.com/file/d/1EuTYQw-q5yU0EIP4SWF4ktIqlrOAl0-S/view?usp=sharing

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Valquiria Farias Bezerra et al. O papel da atenção primária de saúde na constituição das redes de cuidado em saúde mental. Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Online, v. 9, n. 3, p. 659-668, 2017.

BRASIL. Lei Nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2001.

HIRDES, Alice. A reforma psiquiátrica no Brasil: uma (re) visão. Ciência & saúde coletiva, v. 14, p. 297-305, 2009.

OLIVEIRA, Carlos Augusto et al. Projeto terapêutico singular (PTS): instrumento de cuidado ao sujeito em sofrimento psíquico. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 2, p. e5709-e5709, 2021.