É uma arte esquecida não ceder ao impulso de contrabalançar uma grande alegria com a produção de tristezas ordinárias, apenas para retornar a mediocridade do dia-a-dia a que estamos habituados.
As alegrias que produzimos juntos são invenções extraordinárias e não perversões carcomidas. É um desperdício tomar para si alegrias que morreram nos encontros alheios. Há que se afirmar e produzir a existência em cada vivência.
É do espírito do nosso tempo fazer do aqui e agora um inferno apenas para poder alimentar a ilusão da esperança de um futuro perfeito. Ansiamos por um não lugar onde tudo dá certo e nada é imperfeito. Com isso (re)negamos e nos ressentimos com o que a vida é de fato.
A dor faz parte da perfeição do mundo. Lidar com ela é a única condição para a alegria. Os outros – e nós mesmos – não deveríamos apenas tentar ser melhores do que somos. Ser melhor (em ato e não em essência) é fazer o melhor possível com o que temos e somos. Desse modo jamais somos, estamos sempre sendo, sempre em movimento e modificação.
Não adianta desejar o que deveria ser. Incinerar o desejo na esperança de um além que é negação. Queremos a coragem de, a cada momento, fazer o melhor com a realidade que se apresenta diante de nós.
Não desprezar o fato de que fazemos parte e somos cúmplices de todo acontecimento. Se não há alguma coisa em comum não há encontro.
O fato é que dizer que não queria estar onde se encontra, estando, é simplesmente inútil e uma espécie de auto agressão, uma agressão a si mesmo e a plenitude do real.
Precisamos falar sobre a vida que já vivemos e tudo que já perdemos porque simplesmente um dia sucede a outro e a cada hora nos modificamos e partes de nós morrem, enquanto outras nascem
Sentir o gosto da morte se aproximando de mim, sentir o sopro do vento da completude de um ciclo que se encerra de forma plena.
Tudo está em nossos sonhos reveladores.