Vozes que Transformam: Uma Jornada nos Corredores da Saúde Mental
Somos as alunas Andréya Janniffer Barbosa Honorato e Skarllet Cândida Silva dos Santos, estudantes do Internato de Medicina da Universidade Federal de Alagoas e essa postagem se trata de um relato de parte dos aprendizados obtidos durante o estágio nos CAPS Dr. Rostan Silvestre, localizado no bairro da Jatiúca no município de Maceió/AL. Nesse CAPS que tivemos a oportunidade de acompanhar, trabalham profissionais de diversas áreas, incluindo psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, educadores físicos, e outros profissionais de saúde, além dos chamados oficineiros, que são colaboradores de outras profissões como costureiras e artesãos. todos esses são responsáveis por realizar avaliações, oferecer suporte psicossocial, promover atividades terapêuticas e acompanhar a recuperação dos usuários.
Nossa jornada no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) como estudante de medicina foi uma experiência profundamente transformadora, onde pude testemunhar em primeira mão o poder das oficinas no ambiente de saúde mental para pacientes psiquiátricos. Em particular, o grupo de pessoas que ouvem vozes que destacou-se como um espaço de profunda conexão e compreensão mútua.
Nesse ambiente acolhedor e seguro, os participantes eram estimulados a compartilhar suas experiências mais íntimas e pessoais. Sob a orientação cuidadosa da pessoa responsável pela condução da oficina, era reforçada a importância de ouvir sem julgar, de compreender que não existem respostas certas ou erradas quando se trata das vozes que habitam suas mentes. A confidencialidade era garantida, oferecendo um espaço onde cada indivíduo podia se sentir seguro para se expressar livremente.
A dinâmica da oficina era envolvente e provocadora, começando com perguntas simples sobre como foi o final de semana e como estavam se sentindo. Gradualmente, os participantes eram incentivados a compartilhar suas experiências de ouvir vozes: quando as vozes surgiam, como eram os pensamentos intrusivos, o que faziam para lidar com isso, e se reconheciam as vozes como masculinas ou femininas. O diálogo fluía organicamente, e o grupo se tornava um espaço de apoio mútuo, onde as experiências compartilhadas eram validadas e acolhidas.
Um momento particularmente impactante foi quando discutimos estratégias para lidar com o sofrimento causado pelas vozes. Alguns participantes compartilharam suas formas individuais de enfrentar essa dor, seja assistindo uma novela, indo à praia, ouvindo música, ou simplesmente passeando com o cachorro. Foi um lembrete poderoso de que, apesar das lutas internas, ainda há momentos de alegria e conforto que podem ser encontrados no cotidiano.
A parte mais emocionante da oficina foi quando os participantes foram encorajados a reconhecer que as vozes, de certa forma, refletem aspectos internos de si mesmos. Eles foram incentivados a se verem como protagonistas de suas próprias histórias, capazes de tomar decisões e negociar com a realidade e seus próprios pensamentos. Foi um momento de empoderamento e autodescoberta para muitos, que começaram a perceber que as vozes não eram entidades externas, mas sim manifestações de suas próprias lutas internas.
À medida que a conversa progredia, exploramos mais profundamente o conteúdo das vozes, descobrindo que muitas delas estavam enraizadas em pensamentos de autoagressão ou heteroagressão. Foi um momento de introspecção e reflexão, onde os participantes começaram a reconhecer a complexidade de suas próprias mentes e a encontrar novas formas de conviver com suas vozes.
No final, saí da oficina com um profundo senso de admiração pela resiliência e coragem dos participantes. Eles enfrentavam batalhas internas diárias, mas ainda encontravam força uns nos outros e nas estratégias de enfrentamento compartilhadas. Foi uma lição poderosa sobre a importância de oferecer apoio e compreensão àqueles que lutam contra doenças mentais, e uma experiência que levarei comigo para sempre em minha jornada como futuras médicas.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Andreya e demais estudantes, sejam muito benvindos à Rede HumanizaSUS!
Que inspirador encontrar aqui esta postagem de vocês compartilhando uma narrativa comovente sobre a importante oficina do CAPS e a significativa participação dos usuários, promovendo protagonismo e autoconhecimento. Esse é o tipo de cuidado em saúde mental que todos nós esperamos do SUS, com escuta, acolhimento e cidadania, que valoriza a inclusão e o protagonismo dos usuários.
Parabéns a todos os envolvidos nessa iniciativa tão relevante!
Esperamos que continuem compartilhando conosco a rica experiência de vocês nessa importante jornada acadêmica!
AbraSUS